11 junho 2009

Real politik


Existem domínios, como o da energia, em que não há volta a dar-lhe: os Estados democráticos têm mesmo de firmar negócios com Estados déspotas. Antigamente, as coisas eram feitas às escondidas. Hoje em dia, inaugurou-se uma forma diferente de concretizar estes negócios: organizam-se nos países democráticos recepções de luxo para entreter os déspotas, retirando desse capital de simpatia mais valias negociais que, em teoria, não seriam possíveis à distância. (In)felizmente, esta nova abordagem da real politik constitui um enorme risco, porque depende da capacidade de auto controlo do déspota.

Ontem, a Itália decidiu receber o líder líbio Muammar Kadhafi. Este senhor, outrora um perigoso terrorista, agora branqueado em venerável "Chefe de Estado", provou os riscos desta nova diplomacia internacional. Ao saír do avião, trazia ao peito, na sua farda militar, um adorno especial: uma foto de Omar Al Mukhtar, herói da independência nas revoltas anticoloniais que a Líbia travou contra a Itália. O gesto indignou toda a Itália que, ao contrário do que inicialmente estava previsto, se recusou a deixá-lo discusar no Senado. E fez muito bem. Não é a primeira vez que este idiota passa das marcas: já o tinha feito em Lisboa, na conferência que reuniu alguns dos mais inqualificáveis déspotas mundiais, quando a sua segurança, certamente pensando que estava em Tripoli, intimidou os jornalistas portugueses que tentavam captar imagens do seu encontro com Sócrates.

Enfim, o ideal era que não tivéssemos de lidar com esta gente. Mas já que o temos de fazer, talvez não fosse má ideia voltar a instituir um pouco mais de recato. A bem da nossa saúde mental.

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