Lawrence Harrison, que tenho vindo a citar, é americano, mas a sua tese de que a cultura é decisiva para realizar a democracia, a justiça e o progresso económico, só lhe ocorreu porque ele viveu 13 anos na América Latina. É dessa experiência que resultou o seu primeiro livro importante (Underdevelopment is a State of Mind, 1981). Comparando os valores e atitudes da sua cultura americana (protestante, na minha linguagem) com os valores e atitudes da cultura ibérica (católica, na minha linguagem) herdada pelos países da América Latina, rapidamente chegou à conclusão que o subdesenvolvimento da América-Latina era o resultado de certas atitudes culturais herdadas de Espanha e Portugal e que lá são ainda prevalecentes.
Provavelmente, uma das que mais o impressionou foi o facto de na cultura ibérica (católica) as pessoas não terem confiança - na realidade, não gostarem - umas das outras fora da família e do círculo restrito de amigos. Para além de ser um entrave sério ao progresso económico (as dificuldades de estabelecer contratos com pessoas em quem não se tem confiança são óbvias), esta atitude impede a democracia. Se eu só confio na família e nos amigos, e não nos outros, como é que vou respeitar um governo que é largamente escolhido ou eleito pelos outros e em cuja escolha eu, a minha família e os meus amigos temos um peso insignificante?
Outra atitude que o surpreendeu foi verificar que, na cultura ibérica herdada pela América Latina, os governantes (a autoridade) estão acima da lei. As pessoas vão para a política não para servirem os outros, mas para se servirem a si próprias, já que podem violar a lei sem que nada lhes aconteça. Entrar na política, e alcançar um lugar de relevo na política, é uma licença para enriquecer. Por isso, conclui ele com um certo desespero, a maior parte dos governantes desses países vão para a política para enriquecer, não para servir a comunidade: "Aqueles que acham este estereótipo excessivo, devem considerar que o Chefe de Estado latino-americano típico quando abandona o lugar está imensamente rico. Claro que há excepções". (Who Prospers, op. cit., p. 13)
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