Na última semana, primeiro no "Expresso" e depois em outros órgãos de comunicação social, foi noticiado que a direcção do jornal "Público" terá proposto aos seus colaboradores uma redução de salários entre 3 e 12%. A crise está a atingir tudo e todos. E o "Público", apesar da excelência do seu jornalismo, nunca foi um exemplo de saúde financeira, por isso, é natural que agora tenha de reduzir custos para reduzir prejuízos. Nesse sentido, a proposta, embora contrária aos costumes portugueses - basta recordar a lei do trabalho que proíbe a redução nominal dos salários nas relações contratuais já estabelecidas - parece sensata. E, subentende-se, a redução de salários surge como uma alternativa à solução mais radical: os despedimentos.
Infelizmente, aquilo que não me parece nada sensato é a forma como a administração do jornal está a gerir o assunto. Ou seja, ao propôr a redução salarial, ameaçando - ainda que de forma velada - com os despedimentos, está a chutar a decisão para o campo dos funcionários, na prática, demitindo-se da sua função de administração. Ora, é isto que não está certo. Na minha opinião, a decisão certa seria dispensar as pessoas que, na actual conjuntura, estão a mais - explicando-lhes os motivos dessa decisão e pagando-lhes tudo a que têm direito. E, depois, já com a equipa redimensionada, reunindo departamento a departamento, com o intuito de informar os colaboradores para as reduções nos gastos gerais de funcionamento ainda indispensáveis. Assim, reequilibravam-se as contas, respeitava-se a dignidade pessoal dos que saíam e motivavam-se os que ficavam, reforçando desse modo a coesão de equipa dentro da redacção do "Público" e a consideração profissional entre as diversas hierarquias.
Na situação actual, pelo contrário, vai tudo acabar de candeias às avessas e num impasse. Nesse sentido, escreve hoje o Jornal de Negócios que "ontem, em plenário, os trabalhadores [do Público] consideraram não dispor de informação suficiente para tomarem uma decisão sobre a proposta que lhes foi apresentada nem individualmente nem colectivamente". De seguida, foi também "solicitado à administração do Público (...) a implementação de uma estratégia em termos editoriais e comerciais que faça sentido no actual contexto de crise económica e financeira dos media". Ou seja, em face da inabilidade revelada pela administração do "Público", os jornalistas, com o apoio do seu sindicato, responderam muito bem: empataram, adiaram e, provavelmente, inviabilizaram as decisões que lhes tentaram auto infligir.
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