No post anterior, o Joaquim capta adequadamente algumas das características ainda prevalecentes na sociedade portuguesa, como a crença na exclusividade da verdade, a ideia de que o seu modo de vida é universal, a falta de consideração pela dissenção, e o julgamento moral pronto e permanente.
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Gostaria de me deter sobre este último ponto. As discussões sobre qualquer assunto entre portugueses acabam quase sempre em temas de moralidade, normalmente em recriminações morais mútuas: "Tu és isto ... tu és aquilo...". Os blogues fornecem a este respeito um laboratório precioso.
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O significado óbvio desta regularidade é o de que os portugueses, em geral, não sabem o que é a moralidade porque, se soubessem, não passavam o tempo a discuti-la. Trata-se de uma consequência da sua cultura católica. Na sua ânsia de universalidade e de adaptação a todos os povos, a moralidade católica tornou-se tão flexível e permissiva que a fronteira entre a moralidade e a imoralidade praticamente desapareceu. Isto torna-se particularmente óbvio em democracia quando o povo e os seus representantes ascendem ao poder e controlam as instituições.
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O povo de um país de tradição católica, sem uma elite no comando que lhe defina a fronteira da imoralidade, é incapaz de fazê-lo por si próprio. Daí as discussões permanentes acerca da moralidade e as recriminações morais mútuas onde desaguam todas as discussões. Os povos de cultura católica tornam-se facilmente moralistas com uma característica peculiar - a de não saberem muito bem o que é a moral. Vistos de fora, parecem mais aquilo que o historiador Will Durant viu ao caracterizar as relações entre Portugal e a Inglaterra em meados do século XVIII. "Os portugueses viam os ingleses como hereges irreformáveis, enquanto os ingleses viam os portugueses como fanáticos incultos" (citado de memória). Eu penso que a observação mantém muita actualidade.
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