Seguem algumas das respostas de Hayek a um questionário que lhe foi publicamente dirigido por Henry Maksoud, na Universidade de Brasília, na passagem de Hayek pelo Brasil, em 1981. O objectivo do questionário era que Hayek se pronunciasse sobre alguns filósofos e de economistas sugeridos pelo entrevistador, situando-os à esquerda (construtivistas), à direita (liberais), ou numa terceira categoria indefinida e confusa, a que ele chamou de "muddleheads".
Henry Maksoud: Thomas Hobbes.
Friedrich Hayek: Thomas Hobbes, por acaso, começou como secretário de outro grande homem, Francis Bacon. Ambos, realmente - juntamente com René Descartes - são os inventores do que eu chamo de scientistic tradition, segundo a qual até mesmo os mais complexos fenómenos no mundo podem ser explicados por métodos mecânicos. Ele desconhecia, completamente, o facto de que os mais complexos fenómenos da vida e da sociedade não poderiam ser tratados com base em simples princípios com os quais se lida com a mecânica. Portanto, receio que ambos, Francis Bacon e Hobbes, tenham que ser inseridos no segundo grupo, no grupo da esquerda.
H.M.: Edmund Burke.
F.H.: Edmund Burke foi um bom exemplo de libertário. De certa forma, porém, ele não era igualmente teórico. Foi um grande orador e, provavelmente, fez mais do que qualquer outra pessoa para expandir as ideias liberais. Ele não tinha ideias firmes, pois era levado pela emoção, mas, mesmo assim, creio que pode ser inserido entre os que cultivam a tradição da verdadeira liberdade.
H.M.: Lord Acton.
F.H.: Lord Acton foi um dos comentaristas do liberalismo inglês do século XIX. Ele se insere na coluna da direita.
H.M.: Lord Keynes.
F.H.: Duvido que ele tenha tido uma filosofia. Se é que eu posso dizê-lo, tinha o talento de uu artista. Era capaz de representar perante um auditório, convencido de que poderia conduzir a opinião pública na direcção que achasse necessária no momento. Mesmo assim, penso que, em última análise, poderíamos considerar a sua famosa afirmação - da qual Keynes se orgulhava tanto - de que ele era um amoral, o que significava, obviamente, conforme ele e seus contemporâneos proclamavam, julgar, com base nos seus próprios méritos o que era certo ou errado neste mundo. Naturalmente, ele representava o tipo extremado do homem que pensa que a nossa inteligência é suficiente para decidir o que é bom e o que é mau. Ele se insere na coluna da esquerda.
H.M.: Maquiavel.
F.H.: Sem dúvida, trata-se de um grande pensador, mas extremamente mal compreendido e caluniado. Não creio que tenha tido princípios políticos. Ele se convenceu que a ordem só poderia ser mantida por um governo autoritário. Ele estava muito mais preocupado com a eficiência do que com a defesa de princípios.
H.M.: John Stuart Mill.
F.H.: Considero John Stuart Mill o fundador do Fabianismo. Mas é claro que ele tem a reputação de ser um grande expoente do liberalismo. No entanto, entre muitas outras coisas, particularmente algo que mencionei antes, a sua mudança de ênfase da liberdade económica para a liberdade intelectual forneceu aos liberais uma desculpa para o seu approach em relação à liberdade económica. Ele é, porém, o pai do socialismo fabiano. É um muddle of the middle.
H.M.: E Ludwig Von Mises?
F.H.: Na coluna da direita.
H.M.: Robespierre.
F.H.: Não penso que tenha tido qualquer tipo de filosofia. Era um terrorista.
H.M.: Jean-Jacques Rousseau.
F.H.: Definitivamente, ele pertence à coluna da esquerda. O facto não é, de maneira geral, bem compreendido, mas Rousseau é um descendente de Descartes, um racionalista, que desprezava toda a tradição e queria libertar os instintos primitivos do Homem, já que todas as leis tradicionais eram suspeitas e, deste modo, era preciso livrar-se delas.
H.M.: Max Weber.
F.H.: Era um sociólogo, e como tal, penso que deve ser colocado na coluna da esquerda.
H.M.: Karl Popper.
F.H.: Certamente, ele se insere na coluna da direita. Há poucas pessoas com quem concordo tanto quanto com ele.
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