O Corcunda respondeu às questões que lhe coloquei sobre as monarquias modernas - o que lhe agradeço - com um curioso exercício de platonismo substancial, moderado com uma dose suave de aristotelismo.
O facto é que, segundo o legitimismo, tal e qual o Corcunda nos descreve, a ordem política monárquica é um dado da natureza que o Rei incorpora sem necessidade de outros parâmetros que não sejam a Tradição e a Fé. Estamos, assim, perante um animismo político aristotélico, como ponto de partida para uma forma pura de monarquia inspirada num Rei Filósofo platónico, este exclusivamente preocupado com o Bem Comum e com a perfeição das almas dos seus súbditos. Tal modelo não comporta, se bem julgo perceber, a degenerescência aristolélica da monarquia em tirania. Com este conjunto de pressupostos e de convicções, o Corcunda retira a conclusão de que a monarquia, para o ser, para se manter na sua forma ideal, só tem que se entregar, sem reservas, à instituição régia, e esperar placidamente que a ordem natural, a tradição e Deus o mantenham no recto caminho do Bem.
O que há a dizer sobre isto? Bom, no plano das ideias e do puro pensamento especulativo, tudo é legítimo, defensável e até plausível. No mundo real, as coisas são já um pouco diferentes. E, se eu, ao contrário do Corcunda, não o procuro refutar, como ele a mim, invocando o tempo a que pertencemos (o que ele faz permanentemente, ora alegando que já não vivemos no século XIX liberal, ora qualificando de gastas e antigas algumas das ideias que tento defender), sempre lhe direi que vejo a política de forma muito prosaica, como o exercício do poder de homens sobre outros homens, e não como uma manifestação de intenções e de planos divinos, que julgo subjaz a todo o pensamento político do Corcunda. Mas poderia obviamente dizer-lhe, na linha que ele costuma utilizar ao qualificar as ideias liberais como coisa pertencente ao século XIX, que certamente não vivemos já nos tempos da organização social e política estamental, no Sacro Império, nem sequer nos da restauração do Congresso de Viena. Mas faço-lhe a gentileza de não procurar invalidar as suas ideias com o tempo, como deve ser timbre e quase obrigação de qualquer conservador e tradicionalista.
Nesta insanável contradição (a separação entre o que é de César e o que pertence a Deus), eu preocupo-me com os homens, sobretudo com os homens dotados de poder. E o rei, que o Corcunda praticamente identifica com um ser ungido por Deus para o exercício da governação e para a busca do bem comum, é, para mim, um homem, antes de tudo o mais. Por isso mesmo, Aristóteles não se cansou de alertar para a facilidade com que a monarquia degenera em tirania.
Para se evitar essa quase sempre inevitável fatalidade, mais tarde, os homens encontrariam uma solução: a limitação constitucional e liberal do poder. De todo o poder político, fosse do rei ou de qualquer outro órgão de soberania. A Monarquia Constitucional, que o Corcunda tanto execra, acabou por ser assim uma excelente solução para, no fim de contas, manter a forma pura da monarquia e evitar a sua repetida e insistente degeneração em tirania, de que a História nos dá, infelizmente, exemplos abundantes.
O facto é que, segundo o legitimismo, tal e qual o Corcunda nos descreve, a ordem política monárquica é um dado da natureza que o Rei incorpora sem necessidade de outros parâmetros que não sejam a Tradição e a Fé. Estamos, assim, perante um animismo político aristotélico, como ponto de partida para uma forma pura de monarquia inspirada num Rei Filósofo platónico, este exclusivamente preocupado com o Bem Comum e com a perfeição das almas dos seus súbditos. Tal modelo não comporta, se bem julgo perceber, a degenerescência aristolélica da monarquia em tirania. Com este conjunto de pressupostos e de convicções, o Corcunda retira a conclusão de que a monarquia, para o ser, para se manter na sua forma ideal, só tem que se entregar, sem reservas, à instituição régia, e esperar placidamente que a ordem natural, a tradição e Deus o mantenham no recto caminho do Bem.
O que há a dizer sobre isto? Bom, no plano das ideias e do puro pensamento especulativo, tudo é legítimo, defensável e até plausível. No mundo real, as coisas são já um pouco diferentes. E, se eu, ao contrário do Corcunda, não o procuro refutar, como ele a mim, invocando o tempo a que pertencemos (o que ele faz permanentemente, ora alegando que já não vivemos no século XIX liberal, ora qualificando de gastas e antigas algumas das ideias que tento defender), sempre lhe direi que vejo a política de forma muito prosaica, como o exercício do poder de homens sobre outros homens, e não como uma manifestação de intenções e de planos divinos, que julgo subjaz a todo o pensamento político do Corcunda. Mas poderia obviamente dizer-lhe, na linha que ele costuma utilizar ao qualificar as ideias liberais como coisa pertencente ao século XIX, que certamente não vivemos já nos tempos da organização social e política estamental, no Sacro Império, nem sequer nos da restauração do Congresso de Viena. Mas faço-lhe a gentileza de não procurar invalidar as suas ideias com o tempo, como deve ser timbre e quase obrigação de qualquer conservador e tradicionalista.
Nesta insanável contradição (a separação entre o que é de César e o que pertence a Deus), eu preocupo-me com os homens, sobretudo com os homens dotados de poder. E o rei, que o Corcunda praticamente identifica com um ser ungido por Deus para o exercício da governação e para a busca do bem comum, é, para mim, um homem, antes de tudo o mais. Por isso mesmo, Aristóteles não se cansou de alertar para a facilidade com que a monarquia degenera em tirania.
Para se evitar essa quase sempre inevitável fatalidade, mais tarde, os homens encontrariam uma solução: a limitação constitucional e liberal do poder. De todo o poder político, fosse do rei ou de qualquer outro órgão de soberania. A Monarquia Constitucional, que o Corcunda tanto execra, acabou por ser assim uma excelente solução para, no fim de contas, manter a forma pura da monarquia e evitar a sua repetida e insistente degeneração em tirania, de que a História nos dá, infelizmente, exemplos abundantes.
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