29 maio 2009

Conferência


Ontem, estive em Lisboa a assistir a uma conferência do Financial Times dedicada ao tema "Financial Growth in Portugal". Num elenco de luxo, entre os oradores estiveram Carlos Tavares e Vítor Constâncio, entre muitas outras reputadas personalidades.

No decorrer da apresentação do Governador do Banco de Portugal foi analisada a saúde financeira da banca nacional e a validade de certos critérios contabilísticos - nomeadamente o célebre "Mark to Market" -que, embora virtuosos, exacerbaram alguns dos problemas viciosos nos balanços dos bancos (em particular, nas entidades estrangeiras). Outro tema destacado no powerpoint do senhor Governador foi a situação do mercado imobiliário português. Em traços gerais, o cenário apresentado foi o seguinte: em Portugal, nos últimos anos, não houve bolha especulativa, logo, não se justificam correcções excessivas nos preços das casas. "No boom then, no bust now" - sentenciou Vítor Constâncio.

Em relação ao primeiro tema, durante o período de perguntas e respostas após a sua intervenção, tive a oportunidade de lhe colocar duas questões: 1) se a metodologia associada aos "stress tests" realizados nos EUA fosse aplicada aos bancos portugueses, qual seria o seu grau de conforto com as actuais provisões estabelecidas pelas nossas instituições para situações de crédito mal parado? e 2) estando eu de acordo com a natureza pró-cíclica de critérios contabilísticos como o "Mark to Market", tese defendida por Constâncio, qual é a fronteira que separa a necessidade de adoptar critérios contabilísticos menos pró-cíclicos sem abdicar da transparência e da natureza fidedigna que a contabilidade deve assumir a todo o momento? Quanto à primeira pergunta, a resposta do senhor Governador foi taxativa: sente-se confortável, de resto, o Banco de Portugal também realiza "stress tests", contudo, não divulga os resultados desses mesmos testes. Quanto à segunda questão, a resposta foi mais evasiva, o que é compreensível dada a dificuldade da matéria e dado o facto de não existirem soluções perfeitas.

Por fim, uma questão que não coloquei, na altura não me ocorreu, mas que merece ser discutida e que é muito simples: independentemente das oscilações conjunturais dos preços no sector imobiliário, quantos anos de salários custam os imóveis que, em média, os portugueses adquirem? Eu não estou na posse de dados que me permitam quantificar esta minha dúvida, mas tenho a impressão que, em média, os portugueses demoram mais anos a pagar as suas casas que a generalidade dos cidadãos da União Europeia. Se os números confirmarem esta minha impressão, então, é caso para argumentar acerca de uma bolha estrutural no imobiliário nacional. Mas pode ser que não...O melhor mesmo é procurar os números!

Ps: Pela primeira vez em Portugal, assisti a uma conferência conduzida 100% em inglês. E fiquei agradavelmente surpreendido pela fluência Shakespeariana da maioria dos oradores portugueses.

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