
Acabei por não dizer nada, não tanto por mau génio ou capricho, mas por absoluta incapacidade intelectual para uma obra de tamanha dimensão: nunca percebi o conceito elementar de “elite”, mesmo após ter passado os olhos pelas obras de Mosca, Pareto, Michels e até mesmo pelos trabalhos do maçador Robert Dahl. Serão, as elites e os iluminados que as integram, aqueles que enunciam o caminho da virtude aos gentios e plebeus? Serão as elites quem nos esclarece sobre a moral e os bons costumes? Serão os melhores dos melhores? Ou apenas os melhores em cada actividade social e profissional? Os mais ricos? Os melhor sucedidos profissionalmente? Um bom chefe de família é um homem de elite? E um bom marcador de futebol? Ou um corredor de fórmula 1? E como se encontra um homem de elite? Através de obras e de feitos notáveis? Pela leitura dos jornais? São aqueles que aparecem nos noticiários da SIC e da TVI? E, por outro lado, existirão critério e juiz capazes de determinar quem é ou não é uma pessoa de elite? Se a conclusão resultar do senso comum, aquele que é usado pelos homens vulgares, como poderá então um gentio avaliar alguém de um grupo de que não faz parte, a que não pertence? E onde se situam aqueles, o grande número, que não pertence à elite? No povo? Na populaça? Fazem parte da plebe? São homens comuns, vulgares, sem interesse nem distinção?
Se estas dificuldades são, para mim, intransponíveis, elas agravam-se se tentarmos precisar sociologicamente o conceito. Por exemplo: as elites portuguesas. Pior ainda: as elites políticas portuguesas. Mais grave: as "elites políticas nortenhas", as tais que hoje se discutirão na Universidade Católica do Porto. Isto significa que dentro da política e dos políticos, já de si um grupo socialmente destacado e restrito, existirá um núcleo de talentos com capacidades raras, que elas (as elites políticas) existem em Portugal, e, pasme-se!, que existem mesmo “elites políticas nortenhas”, presume-se, no Norte deste belo país que é Portugal.
Ora, por mim, sempre vi as “elites políticas nortenhas” como aquele destacado conjunto de talentosos e imaginativos cientistas sociais operativos do Porto e arrebaldes, que, uma vez cacicados nas secções dos partidos a que pertencem para integrarem as listas partidárias onde eventualmente são eleitos deputados, se deslocam em manada para Lisboa no foguete das segundas-feiras (para irem para o Parlamento, ou para a “Assembleia”, como dizem os mais letrados), donde regressam à sexta à noite, e cuja grande finalidade existencial é um dia chegarem a ministros do Reino, ou, pelo menos, a membros não executivos (mas remunerados) de conselhos de administração de empresas públicas. No entretanto, enquanto não atingem esses longínquos e almejados horizontes, vão mantendo um apartamento nas Olaias, uma amante platinada (ou um amante, conforme os paladares) para os acompanhar à 24 de Julho nas “noites loucas” de quinta-feira, uma garrafa de whisky no Elefante Branco e um assento no balcão do Gambrinus para comer camarões da costa e pregos de lombo no pão na companhia da dita senhora.
Um tema fascinante, sem dúvida.
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