12 março 2009

Sai ...sai!...


De todos os acidentes de viação que presenciei na vida, aquele que mais me divertiu, porque não implicou vítimas, e exemplificou como nenhum outro a falta de julgamento das mulheres e a sua radical indecisão, ocorreu há cerca de cinco anos, quando eu viajava na A1, no sentido Lisboa-Porto, perto de Coimbra.
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Antes de relatar o acidente, eu gostaria de dizer que os homens são melhores condutores que as mulheres porque a condução envolve uma série de julgamentos e de decisões em catadupa que têm de ser tomadas com rapidez e determinação: "Passo ... não passo? ... Travo ... ou acelero? ... Qual o melhor caminho para chegar ao destino? ... Consigo estacionar neste espaço?...". O espírito de uma mulher de tradição católica não está feito para isto. E o pior de tudo pode acontecer quando duas mulheres viajam sozinhas num carro, uma ao volante e a outra ao lado.
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Volto ao acidente, pedindo previamente ao leitor que se concentre num ponto da imagem. Se tiver a possibilidade, aumente o tamanho da imagem. Trata-se daquele ponto de disjunção entre a auto-estrada e a saída. Nesse ponto, os rails formam um vértice, um dos braços acompanhando a A1 e o outro acompanhando a saída. Nesse ponto está também colocado um sinal indicando a terra mais próxima após a saída da auto-estrada.
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Foi numa saída assim, antes de chegar a Coimbra. Ao longe eu avistei o carro da polícia parado e com as luzes acesas, sinal de acidente. À medida que me aproximei, reduzindo a velocidade, distingui um carro empoleirado sobre os rails. Reduzi ainda mais para ver o que se passava. Confirmava-se, o carro estava empoleirado sobre os rails, precisamente no seu vértice, as rodas da frente no ar, e as de trás no asfalto. O sinal indicando a localidade mais próxima estava no chão. À volta do carro dois polícias e duas jovens mulheres, ambas com menos de trinta anos, todos com ar descontraido. Ninguém se magoou.
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Prossegui viagem e logo me interroguei como teria sido possível tão estranho acidente. Era uma tarde de primavera, havia sol, a visibilidade era perfeita. Logo concluí: "Claro, mulheres ao volante; pior, uma ao volante e outra ao lado...". Passei o resto da viagem a tentar reconstruir a sequência de acontecimentos que teria produzido o acidente. Não foi difícil. Procurarei agora reproduzi-la para o leitor.
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Primeiro, o que é que aquelas duas jovens mulheres vinham a fazer enquanto viajavam na A1? Vinham a falar, obviamente, que vinham a falar sem parar. Enquanto o caminho era sempre em frente e não havia decisões a tomar, tudo correu bem. Elas continuavam descontraidamente a falar. Até que uma, mais provavelmente a pendura, interrompendo de súbito a conversa, olhando de relance pela janela e vendo a indicação da saída, disse à outra, em voz semi-aflita:
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-"Olha ... é aqui! ... é aqui! ... temos de sair aqui!..."
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A condutora assustou-se e meteu o pé ao travão, reduzindo a velocidade, mas continuou em frente. Como, perante uma tese, a reacção dos portugueses é sempre e, invariavelmente, do contra, a condutora ter-lhe-à respondido, em voz igualmente semi-aflita:
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-"Não é nada, pá! ... é na outra ... é na outra..."
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O carro continuava a deslizar pela A1, direcção norte. A saída estava agora a vinte metros de distância. A pendura voltou à carga, agora com redobrada urgência na voz:
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-"É, pá ... é aqui ... é a nossa saída ... Sai ... sai! ..."
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A outra hesitou por mais um segundo, que lhe foi fatal. Quando quis sair já não foi a tempo.
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Anexo: Mulheres ao volante. Ver também aqui.

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