Em posts anteriores, eu procurei mostrar como o intelectual catante teria a vida impossível num país de cultura protestante, que é a cultura que ele procura imitar sem conseguir libertar-se dos modos de pensar e agir da sua própria cultura católica. Ele não adere ao valor supremo dessa cultura - a justiça - e, por isso, seria considerado um batoteiro nesse meio, um brutamontes cruel, e seria excluido da convivência com os outros.
Por isso, um intelectual catante só consegue sobreviver dentro da sua própria cultura católica, onde a generalizada falta de sentido de justiça da população, não apenas lhe assegura a sobrevivência como até, às vezes, a promoção social. O meu propósito neste post é, primeiro, o da captar uma característica de carácter do intelectual catante, e depois indicar como se lida com ele.
A característica a que me refiro é a cobardia. Ele começou por entrar num processo de litigação - o debate intelectual -, assumindo ele a posição de juiz em causa própria e declarando que as posições do seu opositor são falsas. Como na cultura católica a verdade é o critério da moralidade - na realidade, é o critério de tudo - ele passa depois a condenar moralmente o seu opositor, depreciando-o, amesquinhando-o, no limite ofendendo-o e insultando-o, e tudo isto perante uma população que, sendo parcial, é incapaz de julgar. Na realidade, a parcialidade leva uma parte da população a tomar partido em favor do intelectual catante e de tudo aquilo que ele faz.
Sabendo que cometeu uma injustiça, e sem que a população seja capaz de fazer justiça, o intelectual catante sabe o que pode esperar do seu opositor - justiça pelas próprias mãos, isto é, violência, e da maior, como é próprio de quem se sente injustiçado, sem que ninguém lhe faça justiça. Por isso, o intelectual catante vai procurar refúgio, o qual ele encontra na facção, no grupo de amigos, e é assim que ele revela a sua cobardia.
Se do outro lado está também um intelectual catante, a resposta vai ser pronta, imediata, e na mesma moeda. O resultado é que acabam os dois engalfinhados, cada um com a sua facção atrás, trocando ofensas, piadas, jogos baixos e insultos, de tal modo que, se já de si a população posssui falta de julgamento, agora ainda é mais dificil julgar quem tem razão e quem não tem, já que cada uma das facções passa a reclamar a justiça para si.
Mais interessante, e diferente, é a reacção se do outro lado está um intelectual protestante, quer dizer, um homem que põe a justiça acima de todos os outros valores, e para quem a maior ofensa que se pode cometer sobre ele é a injustiça. Na sua cultura, raramente uma injustiça é cometida porque a população protestante, possuindo um elevado sentido de justiça, não consente. Mas agora ele está a ser injustiçado num país de tradição católica, um país onde a população não possui qualquer sentido de justiça. Só existe uma solução. Ele vai ter de fazer justiça pelas suas próprias mãos. E vai fazê-la sozinho, porque na sua cultura a justiça não admite facções.
Como? Em primeiro lugar, ele não reage às primeiras ofensas do intelectual catante. Para um homem de cultura protestante, a verdade não está em factos isolados, está em tendências (teses). Ele não reage sequer às segundas, continuando a comportar-se decentemente perante o comportamente cada vez mais alarve e agressivo do seu opositor. Esta falta de reacção do intelectual protestante, e o facto de ele nunca juntar à sua volta uma facção, é interpretada pelo intelectual catante como um sinal de fraqueza - não só ele não reage como não tem quem o defenda. Por isso, com o tempo, o intelectual catante vai persistir nos abusos. Uma tendência - uma verdade - começa a desenhar-se claramente no espírito do intelectual protestante - os abusos são reiterados, o intelectual catante é um brutamontes, um alarve, um homem injusto, que não cessa de o abusar e ofender. Ele está agora pronto para actuar, para fazer justiça pelas suas próprias mãos. Só tem de aguardar o momento oportuno.
E o momento oportuno vai surgir quando o intelectual catante, habituado agora como está a abusá-lo quando lhe apetece, e fazendo-o sempre no abrigo da sua facção, comete mais um abuso. É então que o intelectual protestante decide: "É hoje!". E ele sai então à cena como nunca ninguém o viu. Aquele homem que todos conheciam como um homem calmo, racional, ponderado, indiferente aos abusos, transfigura-se no homem mais violento que se pode imaginar, uma violência alimentada por uma sede imperiosa de justiça. Nos seus olhos, vê-se que ele está pronto a enfrentar sozinho, não apenas o intelectual catante, mas toda a sua turba. Ele pode morrer no combate, mas ninguém o fará parar, porque ele trava esse combate em nome de Deus. Na sua cultura protestante foi Deus quem lhe transmitiu a justiça como o maior de todos os valores.
Ele dá então ao intelectual catante a tareia da sua vida até o ver de rastos, espezinhado e sem acção. É uma sova monumental e para ficar na memória. E como reage o intelectual catante? Como é um cobarde, e os seus amigos não são diferentes, não reage. Cala-se. Leva a tareia, aguenta e fica com a lição para a vida. É remédio santo. Nunca mais se mete com o intelectual protestante, e passará a ser muito prudente no futuro em meter-se com outros homens, porque até aqui ele estava habituado a meter-se, não com homens, mas com cobardes como ele.
Por isso, um intelectual catante só consegue sobreviver dentro da sua própria cultura católica, onde a generalizada falta de sentido de justiça da população, não apenas lhe assegura a sobrevivência como até, às vezes, a promoção social. O meu propósito neste post é, primeiro, o da captar uma característica de carácter do intelectual catante, e depois indicar como se lida com ele.
A característica a que me refiro é a cobardia. Ele começou por entrar num processo de litigação - o debate intelectual -, assumindo ele a posição de juiz em causa própria e declarando que as posições do seu opositor são falsas. Como na cultura católica a verdade é o critério da moralidade - na realidade, é o critério de tudo - ele passa depois a condenar moralmente o seu opositor, depreciando-o, amesquinhando-o, no limite ofendendo-o e insultando-o, e tudo isto perante uma população que, sendo parcial, é incapaz de julgar. Na realidade, a parcialidade leva uma parte da população a tomar partido em favor do intelectual catante e de tudo aquilo que ele faz.
Sabendo que cometeu uma injustiça, e sem que a população seja capaz de fazer justiça, o intelectual catante sabe o que pode esperar do seu opositor - justiça pelas próprias mãos, isto é, violência, e da maior, como é próprio de quem se sente injustiçado, sem que ninguém lhe faça justiça. Por isso, o intelectual catante vai procurar refúgio, o qual ele encontra na facção, no grupo de amigos, e é assim que ele revela a sua cobardia.
Se do outro lado está também um intelectual catante, a resposta vai ser pronta, imediata, e na mesma moeda. O resultado é que acabam os dois engalfinhados, cada um com a sua facção atrás, trocando ofensas, piadas, jogos baixos e insultos, de tal modo que, se já de si a população posssui falta de julgamento, agora ainda é mais dificil julgar quem tem razão e quem não tem, já que cada uma das facções passa a reclamar a justiça para si.
Mais interessante, e diferente, é a reacção se do outro lado está um intelectual protestante, quer dizer, um homem que põe a justiça acima de todos os outros valores, e para quem a maior ofensa que se pode cometer sobre ele é a injustiça. Na sua cultura, raramente uma injustiça é cometida porque a população protestante, possuindo um elevado sentido de justiça, não consente. Mas agora ele está a ser injustiçado num país de tradição católica, um país onde a população não possui qualquer sentido de justiça. Só existe uma solução. Ele vai ter de fazer justiça pelas suas próprias mãos. E vai fazê-la sozinho, porque na sua cultura a justiça não admite facções.
Como? Em primeiro lugar, ele não reage às primeiras ofensas do intelectual catante. Para um homem de cultura protestante, a verdade não está em factos isolados, está em tendências (teses). Ele não reage sequer às segundas, continuando a comportar-se decentemente perante o comportamente cada vez mais alarve e agressivo do seu opositor. Esta falta de reacção do intelectual protestante, e o facto de ele nunca juntar à sua volta uma facção, é interpretada pelo intelectual catante como um sinal de fraqueza - não só ele não reage como não tem quem o defenda. Por isso, com o tempo, o intelectual catante vai persistir nos abusos. Uma tendência - uma verdade - começa a desenhar-se claramente no espírito do intelectual protestante - os abusos são reiterados, o intelectual catante é um brutamontes, um alarve, um homem injusto, que não cessa de o abusar e ofender. Ele está agora pronto para actuar, para fazer justiça pelas suas próprias mãos. Só tem de aguardar o momento oportuno.
E o momento oportuno vai surgir quando o intelectual catante, habituado agora como está a abusá-lo quando lhe apetece, e fazendo-o sempre no abrigo da sua facção, comete mais um abuso. É então que o intelectual protestante decide: "É hoje!". E ele sai então à cena como nunca ninguém o viu. Aquele homem que todos conheciam como um homem calmo, racional, ponderado, indiferente aos abusos, transfigura-se no homem mais violento que se pode imaginar, uma violência alimentada por uma sede imperiosa de justiça. Nos seus olhos, vê-se que ele está pronto a enfrentar sozinho, não apenas o intelectual catante, mas toda a sua turba. Ele pode morrer no combate, mas ninguém o fará parar, porque ele trava esse combate em nome de Deus. Na sua cultura protestante foi Deus quem lhe transmitiu a justiça como o maior de todos os valores.
Ele dá então ao intelectual catante a tareia da sua vida até o ver de rastos, espezinhado e sem acção. É uma sova monumental e para ficar na memória. E como reage o intelectual catante? Como é um cobarde, e os seus amigos não são diferentes, não reage. Cala-se. Leva a tareia, aguenta e fica com a lição para a vida. É remédio santo. Nunca mais se mete com o intelectual protestante, e passará a ser muito prudente no futuro em meter-se com outros homens, porque até aqui ele estava habituado a meter-se, não com homens, mas com cobardes como ele.
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