11 março 2009

criminalidade católica


No meu post anterior, um leitor, embora parecendo aceitar a minha tese de que o tipo de crime aí referido é distintamente de cultura protestante, referiu-se depois à criminalidade violenta dos países católicos, invocando o caso das favelas no Brasil.

Gostaria neste post de distinguir os dois tipos de criminalidade violenta extrema na cultura protestante e na cultura católica. Para isso reitero a distinção que tenho vindo a fazer. A sociedade protestante coloca como seu valor mais alto a justiça (equidade), ao passo que a sociedade católica, colocando o valor da verdade acima de todos, é comparativamente mais tolerante com a iniquidade. As sociedades protestantes são, assim, mais equitativas que as sociedades católicas. Um dos aspectos em que a iniquidade da sociedade católica se manifesta em público é o económico, através do fenómeno da pobreza exposta.

O criminoso violento em extremo da cultura protestante está possuido de um sentimento de injustiça, mas contra a sociedade em geral, não contra alguém em particular. Ele age sozinho, pode ser oriundo de qualquer meio social, e é totalmente imprevisível. Ele mata ao acaso, normalmente vítimas inocentes. Não é uma criminalidade organizada.

Diferente é o perfil do criminoso violento em extremo da cultura católica. Ele age em grupo (gang ou facção) e tem por objectivo outro grupo (vg., os ricos ou um gang rival) e a criminalidade é exercida contra esse grupo, e não indiscriminadamente contra qualquer pessoa na sociedade. É mais previsível porque é uma criminalidade de pobres contra ricos - ou entre pobres, como refiro a seguir. É uma criminalidade organizada.

Nos casos de pobreza extrema e maciça (vg., Brasil) o confronto pode tornar-se tão violento e extensivo que conduz à segregação entre os dois grupos - pobres e ricos - e isso acontece quando os pobres são tão numerosos e poderosos que recusam submeter-se à "justiça dos ricos". É esta a origem das favelas brasileiras (e das máfias italianas). A favela é a sociedade dos pobres, totalmente segregada da sociedade oficial, que possui o seu próprio governo e o seu próprio sistema de justiça, não aceitando as instituições oficiais.

Embora a favela seja uma forma de organização dos pobres contra os ricos, para se subtrair à "justiça dos ricos", ela acaba por gerar uma outra versão de criminalidade violenta que é a criminalidade entre gangs, e esta criminalidade é também genuinamente católica. A cultura católica pressupõe uma autoridade pessoal e unitária, à qual a democracia é estranha. Não vale a pena esperar eleições entre gangs rivais para determinar quem governa a favela. Quem vai governar a favela é o chefe do gang mais forte que se impuser pela força eliminando ou dominando os outros. Daí a criminalidade entre gangs rivais, que é uma criminalidade tipicamente católica.

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