02 fevereiro 2009

uma diferença essencial



Há uma diferença essencial entre escritores como Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa, por um lado, e Ramalho Ortigão e Eça de Queiroz, por outro. Para os primeiros, a escrita era um acto de liberdade e de consciência; eles não viviam da escrita e, por isso, não escreviam para o povo. Os segundos, pelo contrário, escreviam para o povo - para o mercado - e precisavam desse dinheiro como do pão para a boca; a correspondência assídua entre eles quase não trata de outra coisa - dinheiro.
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Outra diferença é que Ortigão e Eça eram dois ideólogos de esquerda - eles queriam revolucionar Portugal, destruindo a ordem social existente (pelo menos até ao momento em que lhes ofereceram tachos - a partir daí passaram a ser mais conservadores). Pascoaes e Pessoa, pelo contrário, eram duas almas à procura da verdade.
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Numa carta datada de Newcastle em 3 de Março de 1878, Eça escreve a Rodrigues de Freitas:
"O que queremos nós fazer com o Realismo? Fazer o quadro do mundo moderno, nas feições em que ele é mau, por persistir em se educar segundo o passado; queremos fazer a fotografia, is quase dizer a caricatura do velho mundo burguês, sentimental, devoto, católico, explorador, aristocrático, etc. E apontando-o ao escárnio, à gargalhada, ao desprezo do mundo moderno e democrático - preparar a sua ruína. Uma arte que tem este fim ... É um poderoso auxiliar da ciência revolucionária."

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