A liberdade de expressão é uma instituição que se destina a resolver conflitos e, portanto, uma instituição dos países protestantes, onde o protesto e o conflito são o traço dominante da sua cultura. Pelo contrário numa sociedade católica, onde a conformidade é a norma, não só essa instituição não resolve conflitos nenhuns, como é uma fonte de conflitos inumeráveis.
Uma das manifestações da instituição da liberdade de expressão é o debate, e eu gostaria de descrever neste post como decorre um debate em Inglaterra ou nos EUA e, alternativamente, em Portugal. Imagine um debate na televisão sobre qualquer tema envolvendo duas pessoas que se sabem ter posições diferentes acerca dele.
Começo pela Inglaterra. Um dos participantes avança a sua tese. O moderador passa a palavra ao outro participante que também avança a sua tese, distinta da anterior. A palavra é devolvida ao primeiro, que dá mais um avanço na sua tese, e depois ao segundo que procede de modo idêntico. E assim por diante. No final do programa, ou as teses convergem para um ponto comum - e é assim que a liberdade de expressão contribui para resolver conflitos -, ou não convergem. Certo é que nós vimos desfilar perante os nossos olhos, do princípio ao fim, duas teses distintas e concorrentes. Repare também na posição do moderador, que é de absoluta neutralidade.
Passemos agora a Portugal. Um dos participantes faz uma intervenção. Quando a palavra é passada ao segundo, aquilo que ele faz em primeiro lugar é declarar que concorda com o outro (caso em que o debate perde todo o interesse, porque em lugar de dois participantes devia só lá estar um), ou, mais frequentemente, que discorda dele. E, em lugar de avançar uma tese própria, fica ali o tempo todo a dizer porque é que discorda do outro participante. É claro que, quando a palavra é devolvida ao primeiro, este, em lugar de dar mais um avanço na sua tese, vai mas é dizer porque é que discorda das discordâncias do segundo. Frequentemente, o moderador toma partido e ele próprio discorda das discordâncias que o primeiro participante, da segunda vez que falou, manifestou acerca das discordâncias que o segundo participante apresentou à sua intervenção original. Acaba tudo na salganhada habitual.
Repare numa diferença essencial. No primeiro caso (Inglaterra) os participantes no debate são dois companheiros de viagem que seguem por uma estrada, à procura de um destino comum. No segundo caso (Portugal), eles tornam-se dois adversários que ficam ali parados no meio da estrada às turras um ao outro.
Teixeira de Pascoaes tinha razão aqui.
Uma das manifestações da instituição da liberdade de expressão é o debate, e eu gostaria de descrever neste post como decorre um debate em Inglaterra ou nos EUA e, alternativamente, em Portugal. Imagine um debate na televisão sobre qualquer tema envolvendo duas pessoas que se sabem ter posições diferentes acerca dele.
Começo pela Inglaterra. Um dos participantes avança a sua tese. O moderador passa a palavra ao outro participante que também avança a sua tese, distinta da anterior. A palavra é devolvida ao primeiro, que dá mais um avanço na sua tese, e depois ao segundo que procede de modo idêntico. E assim por diante. No final do programa, ou as teses convergem para um ponto comum - e é assim que a liberdade de expressão contribui para resolver conflitos -, ou não convergem. Certo é que nós vimos desfilar perante os nossos olhos, do princípio ao fim, duas teses distintas e concorrentes. Repare também na posição do moderador, que é de absoluta neutralidade.
Passemos agora a Portugal. Um dos participantes faz uma intervenção. Quando a palavra é passada ao segundo, aquilo que ele faz em primeiro lugar é declarar que concorda com o outro (caso em que o debate perde todo o interesse, porque em lugar de dois participantes devia só lá estar um), ou, mais frequentemente, que discorda dele. E, em lugar de avançar uma tese própria, fica ali o tempo todo a dizer porque é que discorda do outro participante. É claro que, quando a palavra é devolvida ao primeiro, este, em lugar de dar mais um avanço na sua tese, vai mas é dizer porque é que discorda das discordâncias do segundo. Frequentemente, o moderador toma partido e ele próprio discorda das discordâncias que o primeiro participante, da segunda vez que falou, manifestou acerca das discordâncias que o segundo participante apresentou à sua intervenção original. Acaba tudo na salganhada habitual.
Repare numa diferença essencial. No primeiro caso (Inglaterra) os participantes no debate são dois companheiros de viagem que seguem por uma estrada, à procura de um destino comum. No segundo caso (Portugal), eles tornam-se dois adversários que ficam ali parados no meio da estrada às turras um ao outro.
Teixeira de Pascoaes tinha razão aqui.
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