Ao longo dos últimos meses, nos Estados Unidos os planos governamentais para lidar com a crise bancária têm oscilado ao sabor do vento. O plano original de Henry Paulson, que defendia a absorção dos derivados de crédito - os tais activos tóxicos que poluem os balanços dos bancos - era o menos mau. Infelizmente, foi abandonado pelo próprio Paulson que cedeu à tentação de recapitalizar os bancos sem antes lidar com o problema de fundo - os derivados de crédito mal parados. Na altura, a razão atribuída à mudança de plano foi a seguinte: não havia forma de estabelecer o preço dos activos tóxicos e, por outro lado, a solvência dos bancos estava em rápida deterioração. Além disso, os reguladores subestimaram o mercado. Consideraram que em 2009 o mercado havia de melhorar, por isso, muitos activos tóxicos poderiam também deixar de o ser. Em Portugal, a este respeito, temos uma situação idêntica: o BPP que, com o apoio do Banco de Portugal, tem procurado ganhar tempo e com isso esperar alguma recuperação dos mercados especulativos onde investiu o dinheiro dos seus clientes (com garantia de capital e, em alguns casos até, garantia de juros). Infelizmente, tanto na América como em Portugal, os mercados de capitais ainda não deram sinais de melhoria, daí que a situação dos bancos se tenham agravado ainda mais.
Portanto, urge regressar ao modelo original: engolir os activos tóxicos e fechar (temporariamente) o mercado dos derivados de crédito, que representam empréstimos bancários securitizados e empacotados num título transaccionável em mercado. A questão mais importante neste processo é definir o preço que o Estado pagará aos detentores destes títulos (bancos, seguradoras, hedge funds, entre outros). Em geral, estes activos são contabilizados de duas formas: a) "Mark to Market" e; b) "Hold to Maturity". No primeiro critério, "Mark to Market", assume-se que o activo é avaliado ao último preço transaccionado. O problema é que, hoje em dia, ninguém quer estes activos, por isso, existe um grande desencontro entre o que os compradores estão dispostos a pagar e aquilo que os vendedores pretendem receber. E o facto de não existirem bolsas - câmaras de compensação - que possam intermediar o encontro de compradores e vendedores só acentua ainda mais as divisões. No segundo critério, "Hold to Maturity", o valor dos activos é contabilizado ao preço histórico. Porém, aqui o panorama também não é muito melhor. É que, contabilisticamente, a partir do momento em que o devedor deixa de pagar o capital e os juros, ou seja, quando entra em incumprimento - uma situação que, como se sabe, não pára de aumentar -, o empréstimo não pode mais ser contabilizado ao preço histórico. Tem de ser amortizado. Assim, qual é a alternativa?
Neste artigo da McKinsey, os autores propõem o seguinte:
"To break the logjam, we propose that the government step in and establish a voluntary program to create a real market price and terms for the sale of bad assets. Rather than use modeling for valuation, the program would set discounts from either of the two basic approaches to accounting value, based on some recent past date (for instance, December 31, 2008). A reasonable level might be 10 percent off for securities already marked to fair value and 20 percent off for loans being held to maturity."
Em Portugal, com excepção do BPP, parece que entre os grandes bancos privados não há grande exposição a activos tóxicos. Na realidade, o único banco que em Portugal parece ter alguma concentração de activos tóxicos é aquele que pertence ao Estado: a CGD. Com uma diferença. É que cá, como se viu agora no negócio CGD/Investifino, não se retiram estes activos do balanço. Pelo contrário, concedem-se prémios para os deixar estar!
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