03 fevereiro 2009

organização corporativa



O modelo ou teoria da concorrência dos economistas profissionais e académicos é um modelo de inspiração anglo-saxónica e assenta em hipóteses implícitas que reflectem a cultura anglo-saxónica. Na realidade, toda a chamada ciência económica é de inspiração anglo-saxónica e reflecte as hipóteses implícitas da sua cultura.

Nesse modelo, a concorrência é um mecanismo que estimula a inovação e beneficia toda a população. Ninguém fica a perder. De facto, considere-se uma indústria onde muito produtores independentes produzem aproximadamente o mesmo bem. Nesta indústria, considere-se ainda que um deles faz uma inovação (v.g., tecnológica) que lhe permite reduzir os custos de produção.

Temporariamente, o empresário-inovador vai obter lucros supra-normais, que lhe permitirão comprar um carro novo, uma casa nova, e mais o que lhe apetecer. A prazo, os concorrentes imitam-no, o custo de produção baixa generalizadamente na indústria, os lucros supra-normais do empresário-inovador desaparecem, e o preço do produto baixa também, beneficiando todos os consumidores.

Porém, as coisas passam-se assim porque nesta população, como é característica da cultura anglo-saxónica, a inveja não é um sentimento prevalecente. Porque, se a inveja fôr um sentimento prevalecente, tudo se passa de maneira diferente, e a concorrência não produz benefícios nenhuns.

Neste caso, o empresário-inovador vai ser alvo da inveja e da calúnia por parte dos seus concorrentes, que o vão denunciar às autoridades como tendo obtido lucros supra-normais por métodos ilegais (compadrio na obtenção de licenças, negócios escuros, enriquecimento ilícito, etc.) e o empresário-inovador em breve será objecto de investigações judiciais que lhe arruinam a reputação pessoal e, provavelmente, o negócio.

Nesta cultura, não existe incentivo a inovar. A única maneira de o empresário-inovador fazer chegar a sua inovação ao público é, primeiro, partilhá-la com os seus concorrentes, de maneira que sejam todos a adoptá-la ao mesmo tempo, e não ele sózinho. Esta solução exige, porém, que todos os empresários do sector possuam um espírito de corpo de tal modo que, ou inovam todos, ou não inova ninguém. Mas tal espírito de corpo requer, então, uma organização corporativa da indústria, não uma organização concorrencial.

Segue-se que o sistema económico adaptado a um povo onde prevalece o sentimento da inveja é o sistema corporativo, não o sistema de concorrência.

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