01 fevereiro 2009

a grande virtude


A Inglaterra, à qual nós estamos fazendo presente das colónias, aos tratados, pensa de outro modo.
Um deputado declara terminantemente no Parlamento que é republicano, que é socialista e que é ateu, que despreza a Carta, a monarquia e a religião. Ninguém o chama à ordem. Entende-se que esse deputado manifesta apenas uma opinião pessoal e livre.
Nos concertos populares de Londres um palhaço, mascarado de rolha queimada com azeite, sobe ao tabaldo e chama bêbada à rainha e estúpido a Deus. O funcionário encarregado da polícia do espectáculo sorri, de braços cruzados. O público aplaude orgulhoso, não talvez a teoria, mas a liberdade do palhaço.
Este respeito pela opinião do cidadão inglês é a grande virtude da Inglaterra, que não tem outra. Na política internacional é egoísta, interesseira, mesquinha e falsa.
(Ramalho Ortigão, As Farpas: "A Liberdade", 1881)

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