11 fevereiro 2009

aprender a lição

No seguimento da revolução de 1820, o “liberalismo” português iniciou um ataque sistemático e reiterado à Igreja Católica. É duvidoso o panorama pintado por alguns defensores das medidas de que o domínio da vida portuguesa por parte daquela instituição fosse asfixiante e inibidor da liberdade. De resto, os ataques que lhe foram movidos foram à sua propriedade (a abolição e consequente confisco dos bens das ordens masculinas, em 1854, por Joaquim António de Aguiar, a posse dos bens das ordens femininas por parte do estado) e aos seus costumes internos (a proibição do uso público dos hábitos talares, após a implantação da República), pelo que não se vê como poderiam diminuir os excessos de que era acusada.

Estas medidas, que repugnariam a qualquer verdadeiro liberal, já que questionavam a propriedade legítima e a liberdade de organização, foram a marca do “liberalismo” português. Elas ofenderam uma instituição tradicional portuguesa e puseram em causa costumes e práticas ancestrais. Em suma, a ordenação espontânea e secular da sociedade portuguesa. Isto, que nada tem a ver com o liberalismo clássico, marcou a doutrina liberal durante décadas e afastou-a do seu espaço político natural, que deveria ser a direita. As consequências são conhecidas: o “liberalismo” português empurrou a direita, durante quarenta anos, para os braços do Doutor António de Oliveira Salazar, e deixou-a aos cuidados da esquerda social-democrata, concretamente do Dr. Mário Soares, a seguir ao 25 de Abril. Aliás, este último, muito inteligentemente, teve o cuidado de não repetir os erros da República e lidou sempre muito bem com a Igreja Católica. Só é pena que tenham sido os socialistas e não os liberais, a aprender a lição.

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