19 fevereiro 2009

alunos


O factor mais importante que contribuiu para sustentar a democracia e a liberdade de expressão em Portugal desde a Revolução de 25 de Abril, foi a adesão do país à União Europeia em 1986. Até então, em apenas 12 anos, Portugal teve 16 governos. Desde então, teve seis governos e cinco primeiros-ministros apenas.

Portugal integrou-se num espaço de países democráticos que iriam estar atentos aos nossos comportamentos em troca do dinheiro que nos davam. E como os portugueses não gostam de parecer mal, eles fizeram um esforço e conseguiram inicialmente parecer bem.

O esforço foi tal, e a cultura portuguesa de querer parecer bem perante os outros tão forte, que em pouco tempo, Portugal cumpria de tal maneira os critérios comunitários, que os portugueses eram considerados os bons alunos da UE, e eram os próprios governantes portugueses que proferiam esta expressão, provavelmente porque foram eles a inventá-la. A expressão sempre me incomodou: Como é que uma nação de gente adulta aceita deixar tratar-se como uma cambada de miúdos de escola, ainda que bons alunos? Mas a expressão agradava ao público e passava bem. Os portugueses, desde que pareçam bem, não querem saber de muito mais.

O entusiasmo inicial da adesão à UE passou com o tempo, a disciplina financeira e cívica dos primeiros anos, transformou-se em indisciplina, Portugal passou a ser olhado como o exemplo daquilo que não deve fazer um país que adere à UE, e hoje faz parte dos PIGS, maioritariamente em companhia de países com cultura católica idêntica à sua - a Espanha e a Itália, mais a Grécia, cuja cultura ortodoxa é muito próxima da católica, e recentemente também a Irlanda.

A UE continua a ser, na minha opinião, a condição sine qua non da democracia portuguesa. Vai a UE permanecer forte e unida no futuro? Não estou nada certo disso. No meio da presente crise, atribuo uma probabilidade de 50% a que o consiga fazer. E, sem a UE, não sobreviverá a democracia em Portugal, e muito menos a liberdade de expressão porque será ela a destruir a democracia.

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