02 janeiro 2009

um especulador de bolsa


Os princípios são importantes, não porque se verifiquem sempre ou a sua aplicação seja sempre desejável, mas porque se verificam na maior parte dos casos ou a sua aplicação é desejável na maior parte dos casos. São guias probabilísticos para a acção. Este é o ponto que pretendi ilustrar no meu post anterior.

Gostaria agora de referir outro ponto. Não foi David Ricardo que descobriu que a especialização e a troca eram bons princípios para a humanidade. Ele limitou-se a racionalizar aquilo que via à sua volta. Há muito que a humanidade tinha descoberto esses princípios, por exemplo, no seio da família, a mulher especializando-se nos cuidados da família e o homem assegurando o seu sustento. Vivendo num período de rápida industrialização em Inglaterra, Ricardo não ficou imune à evidência que a melhoria generalizada do nível de vida da população era devida à especialização e ao comércio.

David Ricardo era um homem prático, um especulador de bolsa e pai de sete filhos. O seu princípio da vantagem comparativa é uma racionalização da experiência, não uma ideia concebida à revelia ou independentemente da experiência. Neste aspecto, ele distingue-se dos economistas austríacos, para quem a experiência não conta para nada - certamente que não para confirmar ou infirmar as suas teses. Em relação aos princípios apriorísticos criados desta última maneira há que ter cuidado. Eles são puros produtos do espírito humano formulados por filósofos, sociólogos e economistas de sofá. Eles conduzem a ideologias, representações falsas da realidade, e não a regras de acção, ainda que probabilísticas, para lidar com a realidade.


Sem comentários: