25 janeiro 2009

encantaram-no


"Afonso partiu. Era na Primavera - e a Inglaterra toda verde, os seus parques de luxo, os copiosos confortos, a harmonia penetrante dos seus nobres costumes, aquela raça tão séria e tão forte - encantaram-no.
(...)
Mas não esquecia a Inglaterra: - e tornava-lha mais apetitosa essa Lisboa miguelista que ele via, desordenada, como uma Tunes barbaresca; essa rude conjuração apostólica de frades e boleeiros, atroando tabernas e capelas; essa plebe beata, suja e feroz, rolando do lausperene para o curro, e ansiando tumultuosamente pelo príncipe que lhe encarnava tão bem os vícios e as paixões...
(...)
Este espectáculo indignava Afonso da Maia ... Já não exigia, decerto, como em rapaz, uma Lisboa de Catões e de Múcios Cévolas. Já admitia mesmo o esforço de uma nobreza para manter o seu privilégio histórico; mas então, queria uma nobreza inteligente e digna, como a aristocracia tory (que o seu amor por Inglaterra lhe fazia idealizar), dando em tudo a direcção moral, formando os costumes e inspirando a literatura, vivendo com fausto e falando com gosto, exemplo de ideias altas e espelho de maneiras patrícias ... O que não tolerava era o mundo de Queluz, bestial e sórdido."
(Eça de Queiroz, Os Maias)

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