Eu gostaria neste post de comentar sobre algumas das observações de Fernando Pessoa sobre Portugal e os portugueses que repoduzi em baixo em vários posts.
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A primeira é a de que, nalguns casos, são observações de um homem ainda jovem onde a impetuosidade e o carácter taxativo das opiniões é latente (por exemplo, aqui e aqui; ele tinha então 27 anos). Nos seus escritos posteriores, e mais maduros, Pessoa passou a ser mais moderado e apreciativo das qualidades dos portugueses. Na realidade, com o tempo, ele tornou-se um patriota convicto, embora subscrevendo as teses decadentistas que estavam em moda na época.
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A segunda é a de que algumas dessas observações são o produto das circunstâncias. Do ambiente britânico em que foi educado em Durban, na África do Sul, Pessoa regressou a Portugal em 1905, com dezassete anos, para assistir aos desmandos que precederam, e que depois sucederam, à implantação da República, talvez o período mais turbulento da nossa história. Só a esta última luz se compreende a afirmação categórica de que os portugueses são grosseiros e bárbaros (aqui).
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A terceira é a de aquelas observações reflectem a sua educação britânica. Fernando Pessoa viveu em Durban dos 7 aos 17 anos (entre 1895 e 1905), por virtude do segundo casamento da mãe, e aí frequentou o ensino primário e secundário em ambiente britânico, que o influenciou para o resto da vida. As observações sobre o provincianismo de Eça de Queiroz, e a sua ironia pedante (aqui), encontram-se provavelmente entre os caracteres da cultura latina (ou católica) que mais repugnam ao espírito britânico. De influência britânica parece-me igualmente ser a sua observação, aliás justíssima, de que os portugueses só conseguem pensar e agir em grupo. É sobre esta observação que gostaria de tecer duas considerações.
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Para um intelectual como Pessoa, familiarizado com a cultura e a literatura britânica, é certamente decepcionante viver num meio onde as pessoas não ousam exprimir em público qualquer pensamento independente. O debate das ideias fica prejudicado e a vida intelectual, excepto se fôr praticada em pequenos círculos, perde todo o interesse. Isto dito, que a vida intelectual em Portugal, então como agora, é totalmente desinteressante - e, já agora, também caceteira -, passo ao outro lado da questão.
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O facto de os portugueses não ousarem exprimir uma ideia em público sem olharem para o lado para obter aprovação, mostra que eles dão mais importância às pessoas que às ideias, e essa é uma boa característica do povo português (e da cultura católica). O risco está naqueles povos que dão mais importância às ideias que às pessoas, porque as ideias passam então a prevalecer sobre as pessoas. As várias ideologias que, desde a Revolução Francesa, serviram para matar e fazer sofrer muitos milhões de pessoas, não tiveram origem em Portugal, nem poderiam ter. Tiveram todas origem nesses países que prezam o pensamento independente e as ideias - e prezam tanto as ideias que, em nome delas, até matam pessoas.
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A terceira é a de aquelas observações reflectem a sua educação britânica. Fernando Pessoa viveu em Durban dos 7 aos 17 anos (entre 1895 e 1905), por virtude do segundo casamento da mãe, e aí frequentou o ensino primário e secundário em ambiente britânico, que o influenciou para o resto da vida. As observações sobre o provincianismo de Eça de Queiroz, e a sua ironia pedante (aqui), encontram-se provavelmente entre os caracteres da cultura latina (ou católica) que mais repugnam ao espírito britânico. De influência britânica parece-me igualmente ser a sua observação, aliás justíssima, de que os portugueses só conseguem pensar e agir em grupo. É sobre esta observação que gostaria de tecer duas considerações.
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Para um intelectual como Pessoa, familiarizado com a cultura e a literatura britânica, é certamente decepcionante viver num meio onde as pessoas não ousam exprimir em público qualquer pensamento independente. O debate das ideias fica prejudicado e a vida intelectual, excepto se fôr praticada em pequenos círculos, perde todo o interesse. Isto dito, que a vida intelectual em Portugal, então como agora, é totalmente desinteressante - e, já agora, também caceteira -, passo ao outro lado da questão.
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O facto de os portugueses não ousarem exprimir uma ideia em público sem olharem para o lado para obter aprovação, mostra que eles dão mais importância às pessoas que às ideias, e essa é uma boa característica do povo português (e da cultura católica). O risco está naqueles povos que dão mais importância às ideias que às pessoas, porque as ideias passam então a prevalecer sobre as pessoas. As várias ideologias que, desde a Revolução Francesa, serviram para matar e fazer sofrer muitos milhões de pessoas, não tiveram origem em Portugal, nem poderiam ter. Tiveram todas origem nesses países que prezam o pensamento independente e as ideias - e prezam tanto as ideias que, em nome delas, até matam pessoas.
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