Continuam as discussões, agora no Senado, acerca do ridículo "bailout" à indústria automóvel norte-americana. Entretanto, se outros sectores pedirem também a ajuda ao novo governo Obama, algo perfeitamente legítimo, vai ser necessária a injecção de mais-não-sei-quantos milhares de milhões de dólares na economia.
A solução está na emissão de dívida pública norte-americana, ou seja, na capacidade do Estado se financiar junto de outros investidores que confiem nos cofres do Tesouro. Para já, interessados não faltam, em especial em face da queda no valor de outros activos financeiros. Esta semana, pela primeira vez desde 1929, a dívida de curto prazo norte-americana (a 3 meses) foi transaccionada a taxas de juro negativas (-0,05%). Nas emissões a um mês, de prazo ainda mais curto, a taxa de juro final exigida pelos investidores ao Estado norte-americano foi de 0,01%. E no leilão através do qual se realizou a venda, a procura excedeu a oferta em 4 vezes. Extraordinário.
É claro que esta corrida às obrigações norte-americanas nada tem a ver com as necessidades de financiamento do Estado. Está a ser motivada pela queda nas cotações de outros activos financeiros, registada este ano, em especial no mercado de acções e mercadorias. Outro factor é a corrida aos bancos, por parte dos depositantes e investidores que, temendo o risco de falência de várias instituições financeiras, preferem títulos do Tesouro aos depósitos à ordem.
Infelizmente, este desequílibrio, a prazo, poderá ser muito danoso. Alguns analistas falam já em bolha especulativa nas obrigações de Tesouro norte-americanas. A tese faz sentido, em particular a partir do momento em que as taxas de juro se tornam negativas - em que o credor paga ao devedor-, invertendo a ordem natural do processo. Uma implosão deste mercado conduziria ao crash do dólar e, então sim, ao enterro definitivo da ilusão monetária saída do pós Bretton Woods em 1971. Enfim, ME-DO...
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