05 novembro 2008

Nódoa no CV


Ontem, tive a oportunidade de ouvir a posição do Dr. Miguel Cadilhe, acerca do processo que conduziu à nacionalização do BPN, e tenho a dizer que esta me parece inaceitável.

Basicamente, Cadilhe deu a entender que não tem culpa nenhuma nesta situação. E que, na realidade, o culpado pelos problemas do BPN é o Banco de Portugal, que não fez o seu trabalho de supervisão em tempo útil. Ora bolas! É verdade que o Dr. Cadilhe herdou uma situação difícil, agravada pela conjuntura internacional. Contudo, não é menos verdade que o fez com a noção daquilo que ia encontrar. Primeiro, começou logo com a rábula que envolveu a sua contratação. Foi mais de um mês, em que todas as semanas saíam notícias segundo as quais Cadilhe ia aceitar o cargo desde que lhe fosse mantida a pensão vitalícia que recebia do BCP. Finalmente, a partir do momento em que foi empossado como presidente do conselho de administração, Cadilhe teve a liberdade de escolher a sua equipa. E escolheu também o auditor. Pelo caminho, foram realizadas comunicações internas, nas quais Cadilhe proibia os seus colaboradores de conduzir qualquer tipo de prática ilegal. Um desses comunicados acabou nas páginas do jornais - salvo erro no Expresso ou no Sol.

O Dr. Miguel Cadilhe fez uma aposta de alto risco. E, infelizmente, falhou. De resto, o falhanço do BPN deu-se uns dias depois de ter sido a própria administração de Cadilhe, numa iniciativa extraordinária, a agir judicialmente contra os antigos responsáveis do banco. Portanto, não é aceitável que venha agora argumentar que a nacionalização do BPN foi politicamente motivada, só porque o Estado não quis comprar as acções preferenciais que Cadilhe se propunha emitir. E que, sublinhe-se, eram referentes a parte substancial do capital social do BPN, a entidade pela qual nem o próprio Cadilhe estava disposto a pôr as mãos no fogo. Entretanto, o Dr. Cadilhe demitiu-se. Fez bem.

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