Nos meus últimos posts no Mercado Puro tenho ironizado acerca da crise que, supostamente, se sente em Portugal. Pelo contrário, a crise que afecta a Islândia, essa sim, revela contornos dramáticos. Ontem, o seu banco central anunciou que espera para 2009 uma contracção do PIB estimada em 8%! Ao mesmo tempo, o nível geral de preços deverá crescer 14%. Em economês, chama-se a isto Estagflação. O pior cenário possível. Além disso, os seus bancos comerciais estão a ser encorajados no sentido de reteram parte significativa das suas reservas a fim de evitar a ruptura nas importações de comida, combustíveis e medicamentos. Isto, sim, é uma crise!
Entretanto, um grupo liderado pelo FMI, pelo Reino Unido, pela Holanda e, imagine-se, pela Polónia prepara-se para conceder à Islândia um empréstimo de 6 mil milhões de dólares. As contrapartidas exigidas são: 1) austeridade económica, em particular através da redução da despesa pública e; 2) que o banco central islandês mantenha as taxas de juro anormalmente altas, que neste momento se encontram a 18%! E também devem existir outras contrapartidas encapotadas, mas que não são do conhecimento público.
Existe, contudo, um aspecto positivo no caso islandês: a rapidez dos ajustamentos. É mau quando se entra em crise, mas bom quando se tenta sair dela. Ao contrário do que acontece em Portugal, em que tudo é lento. É, porventura, essa lentidão que pode estar a adiar os ajustamentos que também nós teremos de fazer, cuja necessidade, aliás, não é apenas de agora. O exemplo da Islândia mostra, também, que em Portugal não sabemos do que estamos a falar quando discutimos o conceito de crise. Por cá, o crédito continua a crescer a 10% ao ano. Lá, nem sequer há dinheiro para comprar comida!
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