03 novembro 2008

capital cultural



Provavelmente uma das consequências mais certas da presente crise financeira é a de que Portugal, à semelhança dos outros países, se vai fechar, significando mais proteccionismo e menos imigração.

Durante os últimos quinze a vinte anos Portugal viveu claramente acima das suas possibilidades e o défice de transações correntes em ascensão está aí para o demonstrar, mais as ajudas que entretanto recebeu da União Europeia. Está agora na altura de pagar por aquilo que consumiu em excesso, algo que vai durar pelo menos dez anos, se calhar mais.

Aquilo que em termos intelectuais pode parecer uma surpresa chocante, mas que a realidade vai impôr como uma inevitabilidade é que Portugal vai voltar a abraçar certas actividades económicas, como a agricultura e a pesca e certas indústrias transformadoras, que se pensava estavam a desaparecer do país para sempre.

O fecho relativo do país, em termos económicos e de imigração, não é necessariamente um mal. O país possui uma longa história de viver fechado por períodos prolongados. Existe, por isso, entre a população portuguesa, um know-how cultural considerável para lidar com a situação.

A presente crise irá produzir muito mais estragos sociais e económicos entre os países do Norte da Europa do que entre os países do Sul, como Portugal. A razão é que as sociedades do Sul, apesar às vezes do seu anarquismo aparente, são muito mais coesas do que as do Norte, cortesia da Igreja Católica.

No caso de Portugal, este é um país com quase novecentos anos. Enquanto os outros países da Europa andavam a definir fronteiras, Portugal já as tinha definido há séculos praticamente no seu estado actual e a sua população já tinha adquirido um homogeneidade cultural que a tornava uma verdadeira nação.

Ao contrário daquilo que frequentemente se proclama, especialmente entre os imtelectuais, os portugueses - e eu refiro-me agora genuinamente ao povo - são pessoas extremamente cultas. Eu não pretendo que sejam pessoas extremamente intruídas. Pretendo, antes, que são pessoas possuindo um capital cultural muito grande. Ao longo da sua história - quase tanto como a Igreja Católica - já passaram por tudo, períodos de grandiosidade e de miséria, e sobreviveram sempre como nação una e indivisível.
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É esse capital cultural que será posto em prática nos próximos anos de crise. Vai ser um período muito interessante porque vai ser um período de grande criatividade na sociedade portuguesa. Os portugueses foram sempre melhores no meio da adversidade e foi sempre nessas circunstâncias que fizeram sobressair o melhor da sua cultura.

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