07 outubro 2008

Quanto tempo mais?


Quanto tempo mais se aguenta Portugal na zona Euro?

Por: anti-comuna
(A versão original deste texto foi publicada como comentário a este post e censurada sem explicações)
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No passado fim-de-semana algo de extraordinário aconteceu. O país em exercício da Presidência Europeia, França, na pessoa de Sarkozi, decidiu realizar uma cimeira extraordinária, com apenas quatro países europeus, para decidir um eventual pacote de medidas de combate à crise financeira que se vive em toda a Europa.
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Nesta cimeira, realizada pelos países mais fortes e grandes da UE, nada de especial foi decidido para combater o credit crunch, apesar de terem passado por cima de todos os países europeus e do próprio Presidente da Comissão Europeia. No entanto, na prática, esta cimeira determinou o fim da UE tal como a conhecemos e, mais ainda, deu ordem de partida para que os países fracos do €urosistema, conhecidos em jargão eurocrata como os famosos PIGS, acabem por ser expulsos da moeda única ou acabarão por sair pelo seu próprio pé, vergados pela crise económica.
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Na semana passada a Europa conheceu uma fuga maciça de capitais, de um lado para o outro, com os investidores receosos com os sistemas financeiros dos vários países. A tal ponto que levou a Grécia garantir, de um modo patético, todos os depósitos do seu sistema financeiro. Desta forma, ao assumir tal posição, a Grécia deu um sinal aos demais países: ou assumiam posição semelhante ou sofreriam as consequências. Assim sendo, a Alemanha, que se recusou a assinar um pacote de ajudas comuns europeias para salvar a banca europeia, logo após o fracasso da Cimeira do Directório, decidiu também assumir integralmente as garantias dos depósitos nos bancos alemães. O que irá provocar ainda mais pressão sobre os demais parceiros europeus, que acabaram por, em termos comunitários, assumirem uma posição no mesmo sentido mas com garantias dos depósitos de apenas até 50 mil euros.
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Juntando estes factos fica claro que o credit crunch está a evoluir para uma fase que será perigosa para Portugal. Em Portugal os nossos fracos líderes e as nossas fracas autoridades sempre meteram a cabeça na areia e preferiram esconder o problema português, que vive uma crise sem precedentes. E além de meterem a cabeça na areia, o oportunismo político dos nossos políticos, em especial do Governo, foi ao ponto de acusarem os americanos pela criação da crise, exigiram que eles tomassem medidas, em especial a aprovação do famoso Plano Paulson, mas nada fizeram, eles mesmos, para combater o credit crunch que se sente em Portugal.
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Durante anos e anos, em Portugal, foi dito que o nosso país não deveria ter especial preocupação com o seu pesado défice da Balança Corrente e de Capitais já que, integrado na Zona €uro, não haveria especial dificuldades em aceder aos capitais externos. Foi dito por muita e boa gente que o défice da Balança Corrente e de Capitais tinha pouca importância, desde que os agentes económicos demonstrassem capacidade para pagar empréstimos e com um mercado alargado de capitais, dinheiro nunca faltaria para os bons projectos de investimento. No entanto isso é mentira e foi preciso um credit crunch à escala global para que ficasse demonstrado que esse défice da Balança Corrente e de Capitais tem particular importância, já que os riscos sistémicos e agregados assumem especial importância, para que os nossos agentes económicos possam sequer negociar com os detentores de capital externos.
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Um país com um elevado endividamento e com défices gigantescos na sua Balança Corrente e de Capital (Cf. aqui), torna-se vítima de um credit crunch sob duas formas. Uma espécie de penalização de uma moeda de um país sem... Moeda. Uma forma é o acesso aos financiamentos externos, que secam, ou são demasiados caros. A outra forma, é uma fuga maciça de capitais, com estes a procurarem refúgio em sistemas financeiros mais credíveis e de menor risco de colapso.
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E Portugal já conhece a primeira forma de asfixia financeira. Os nossos agentes económicos não conseguem financiar-se para apoiarem os seus projectos de investimentos. Ainda há semanas um consórcio português de construção civil teve que abandonar um concurso público já ganho, num país do Leste, por incapacidade de apresentar garantias financeiras, no sentido que terminaria a obra. No mesmo sector, vários concursos públicos em Portugal estão a ser adiados por dificuldades de financiamento, já que as promessas do Estado não são suficientes para que estas empresas se financiem, pois o Estado português paga mal e a más horas.
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Há dias atrás o Grupo Sonae, apenas e só um dos maiores grupos empresariais portugueses, que há poucos meses atrás conseguiu a proeza de reunir um importante financiamento para o lançamento de um OPA sobre a Portugal Telecom, teve que abandonar a construção de um centro comercial porque não o conseguia sequer financiar. Também a EDP terá adiado a construção de barragens por causa dos custos proibitivos do financiamento por capitais alheios. E também existe o rumor que a própria Galp, que recentemente descobriu gigantescas jazidas de crude ao largo do Brasil, está com dificuldades em obter financiamento para cumprir os acordos assinados com os consórcios que explorarão esse petróleo.
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Se estas grandes empresas e grupos portugueses mostram fortes dificuldades no acesso a capitais externos, que dizer da generalidade das nossas PMEs, dependentes da nossa banca, para financiar os seus investimentos e até a gestão da sua tesouraria? Se a nossa banca também está a viver as dificuldades de um credit crunch que afecta sobretudo as instituições financeiras?
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A segunda forma de asfixia do nosso país é a fuga de capitais. É minha convicção pessoal que se assiste a uma fuga de capitais rumo a países mais credíveis. E na verdade, com as autoridades portuguesas que temos, não é de admirar que os detentores de capitais, residentes ou não residentes, escolham melhores paragens para guardarem os seus preciosos capitais. Se não, vejamos o tipo de país em que vivemos. Temos um Governo, cujo líder, o seu Ministro das Finanças e o da Economia, sempre mostraram incapacidade para compreender que tipo de crise se vive por esse mundo fora. Além de não compreenderem, ainda se negaram a admitir que Portugal seria um dos países que mais sofreria com esta crise, na medida que tem um elevado défice na sua Balança Corrente e de Capitais e os seus agentes económicos altamente endividados, inclusivé as famílias na casa dos 130% dos seus rendimentos. Além de negarem que Portugal poderia ser um dos países mais afectados com esta crise financeira, sempre mostraram não estarem sequer preparados para enfrentar um eventual colapso sistémico do seu sistema financeiro. Limitaram-se a acusar os americanos de provocar a crise, de exigirem acção por parte deles, mas nunca fizeram o seu trabalho de casa e nem tomaram medidas preventivas. E chegaram ao cúmulo de ficarem à espera que um eventual Directório europeu tomasse medidas para combater a crise financeira. E, para cúmulo da desgraça e da completa incompetência das nossas autoridades, tivemos uma notícia em que se sugeria que o Governador do Banco de Portugal, sim esse mesmo, teria desabafado que havia duas pequenas instituições financeiras à beira da ruptura. E essa notícia, propagada por vários orgãos de informação, nunca foi sequer desmentida, podendo estar a gerar uma crise sem precedentes em todas as pequenas instituições financeiras portuguesas. Já que este tipo de boatos, propagados pelo próprio Governador do nosso Banco Central, podem destruir a confiança nesse tipo de instituições. E levá-as-à falência.
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Nesta altura o principal cancro e risco da nossa economia reside no assustador défice da Balança Corrente e de Capitais. Este défice tem sido a principal causa das crises catastróficas dos países altamente endividados. A saber, Islândia, USA, Irlanda, Grécia, Espanha e a seguir, Portugal?Além deste pesado défice, Portugal não consegue sequer crescer à mesma taxa dos seus parceiros europeus, o que gera ainda mais receio junto dos investidores estrangeiros, que assim se recusam a emprestar dinheiro e até investir em Portugal. Se somarmos umas autoridades incompetentes e que reagem a reboque dos acontecimentos e nem sequer tomam medidas preventivas, estando à espera que sejam os estrangeiros a tomarem medidas de combate à crise financeira, temos os ingredientes para que esta crise financeira se torne num pesadelo económico para os portugueses.
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Assim sendo, com os resultados práticos da incapacidade europeia em assumir os custos do combate a este crise, países como Portugal encontram-se na linha da frente dos que mais pagarão pelos seus próprios erros. A Alemanha não deseja pagar a resolução da crise financeira europeia e deixou para cada país o seu custo. E Portugal nem sequer tomou medidas que evitassem que esta crise se torne catastrófica para Portugal e para os portugueses. Além de se mostrar incapaz sequer de evitar que boatos, eventualmente propagados pelo Governador do Banco Central, ponham em causa bancos pequenos e o sistema financeiro como um todo.
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Nos próximos meses haverá um teste profundo a Portugal e às suas autoridades. Portugal terá que resolver os seus problemas económico-financeiros, sem esperar a ajuda e muleta alheia. Terá que suprir a incapacidade de aceder aos capitais alheios e de evitar uma fuga maciça de capitais. Terá que impedir o colapso das suas instituições financeiras, apenas com os seus parcos recursos. Será capaz de o fazer neste contexto mundial? Não. E não sendo capaz, na prática a Cimeira do Directório do passado fim-de-semana sentenciou a permanência de Portugal na Zona €uro. Porque Portugal não consegue sequer gerar rendimentos que paguem a já sua pesada dívida quanto mais conseguir atrair capitais que impeçam o colapso da sua economia. Ou seja, é uma questão de tempo até que Portugal abandone a Zona euro ou seja convidado a sair, pelo seu próprio pé. O Pedro Arroja dá 25% de hipóteses a que Portugal ainda faça parte do euro em Outubro de 2009. Eu não sendo capaz de atribuir essa probabilidade, apenas penso que se não for em doze meses a saída do euro, Portugal, lá para 2013, terá a sua própria moeda: o Tostão Furado.

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