É com gravidade e circunspecção que anuncio, a todos quantos se têm entretido, nos últimos dias, a zurzir violentamente o mercado livre e o capitalismo, uma verdade inconveniente: o capitalismo e o mercado livre não existiram nunca em lugar algum, em nenhum momento. Todas as economias nacionais foram, são e provavelmente continuarão a ser objecto de múltiplas intervenções dos estados e dos seus governos, por via legislativa e por inúmeras outras formas de intervenção directa e indirecta, como a tributação. Não existindo capitalismo e mercado livre em modelo integral, o que existem são economias mais ou menos intervencionadas, mais ou menos estatizadas, consoante a força e a resistência que a sociedade civil oferece aos despautérios do poder público. Podem, por isso, os liberais dormir sossegados: o seu sistema político e económico não falhou, nunca falhou, pela evidência lapaliciana de que nunca foi integralmente posto em prática.
Mas, já que estamos com a mão na massa, devemos aproveitar para perguntar aos estatistas sobre os seus "êxitos" e os do intervencionismo que defendem e praticam. Sobre os custos que a economia e a sociedade têm que pagar pela decisão política, sempre que um senhor ministro resolve fazer mais uma estrada, inaugurar mais uma escola, beneficiar um segmento da população, criar mais uma repartição pública, uma nova secretaria de estado, contratar mais uma secretária, um director, um especialista, solicitar mais um parecer, renovar a frota automóvel do seu ministério, aumentar o IVA, cobrar mais taxas. Ou seja, onde anda a famosa redistribuição keynesiana dos (pelo menos) 50% do PIB que, por exemplo, o estado português absorve anualmente à economia privada? Em que fomos mais felizes? A nossa vida melhorou ou piorou? Os pobres já não existem? Estamos satisfeitos com a prestação de serviços públicos nas áreas da saúde, da educação, do ambiente, da justiça, da segurança, etc.? E, já agora, o famoso “pleno emprego” foi já atingido pelo nosso keynesianismo, ou, pelo contrário, o desemprego continua a galopar? Por outras palavras, a redistribuição foi eficaz, ou ficou cativa na burocracia e no clientelismo político?
Em tempos de calcular êxitos e inventariar fracassos, conviria ter presente que o que sustenta um país é a sua economia privada, e não o estado e a burocracia. Mesmo em países, como o nosso, em que o mercado está intervencionado em, pelo menos, 50%, há que convir que, apesar de tudo, o que resta dele tem-nos permitido manter uma vida razoável.
Sem comentários:
Enviar um comentário