04 outubro 2008

mal casados

A democracia casou com os portugueses mas os portugueses não casaram com a democracia. Esta afirmação é decalcada de uma outra mais prosaica que alguns mulherengos irredutíveis faziam no passado. Diziam: Casado, eu? Não! A minha mulher é que pensa que está casada comigo, mas eu não me sinto casado com ninguém.
A democracia é, antes de mais, uma cultura de diálogo e de consensos. Independentemente da estrutura constitucional e da organização administrativa do País, a democracia depende da existência de democratas e os portugueses são pouco democráticos.
Quem tivesse dúvidas, bastaria acompanhar o processo de aprovação do pacote Bush /Paulson, nos EUA, para perceber do que estou a falar. A colaboração entre o executivo e o legislativo, a negociação constante e o espírito bipartidário, tanto no Senado como no Congresso. É um processo complicado, cheio de percalços e solavancos, mas equilibrado no final.
Em Portugal, o processo democrático é tosco, porque os políticos, como bons portugueses, não se sentem casados com a democracia. São autoritários e autistas. Não ouvem as vozes da oposição e não valorizam opiniões independentes. Reflictam apenas sobre os investimentos que o governo está a planear, no novo aeroporto de Alcochete e no TGV, e façam comparações. Se o valor destas obras representar 5% do PIB corresponde “grosso modo” ao esforço de 700 biliões que os EUA estão a fazer para salvar o sistema financeiro. Não será necessário um grande consenso nacional?
Deste modo vai ser muito difícil manter o casamento dos portugueses com a democracia e, um dia, todos vamos descobrir que afinal ninguém se sente casado com ninguém.

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