18 outubro 2008

deflação


Nas últimas semanas os bancos centrais injectaram quantidades maciças de dinheiro no sistema bancário, para permitir aos bancos fazerem face às suas responsabilidades e, em particular, honrarem os depósitos dos seus clientes. Nos próximos meses, se calhar anos, terão de continuar a fazê-lo. Em condições normais, esta injecção maciça de meios de pagamento no sistema financeiro conduziria a uma hiper-inflação.

As condições presentes, porém, não são normais. E aquilo de que poderemos vir a sofrer num futuro muito próximo - uma situação para a qual eu atribuo uma probabilidade superior a 50% - é de deflação, não de inflação. Os portugueses conhecem bem o fenómeno da inflação. Poucos, no entanto, estarão familiarizados com o seu oposto - a deflação, significando uma queda persistente e generalizada do nível de preços. A última vez que aconteceu em Portugal foi nos anos 30 na sequência da Grande Depressão. Entre 1925 e 1939 o nível geral de preços caiu cerca de 20%.

Primeiro, indicarei a razão para a possibilidade de deflação, depois algumas das suas consequências. A injecção maciça de dinheiro nos bancos, que está a ser feita pelos Bancos Centrais, vai ser utilizada mais provavelmente para reconstituir a sua base de capital, e não para expandir o crédito. Acresce que tendo a presente crise a sua origem no sobreendividamento das famílias, o mais provável é que estas passem os próximos anos suficientemente ocupadas a pagar as dívidas que têm, mais do que a contrair novos empréstimos.

Tendo-se endividado em excesso e feito compras em excesso no passado (habitação, automóveis, viagens, etc.) para alimentar um nível de vida para além das suas possibilidades, as pessoas vão comprar menos no futuro, e é este fenómeno que ditará a queda generalizada dos preços. Para as empresas, preços mais baixos dos produtos que vendem só podem acomodar-se baixando os salários dos trabalhadores, ou despedindo-os, ou indo as próprias empresas à falência. O crescimento económico será nulo ou até negativo. O investimento cai drasticamente porque nenhum empresário investe com a expectativa de os preços cairem. As taxas de juro tendem a baixar, podem até aproximar-se de zero, mas nem por isso as pessoas desejarão contrair empréstimos, tão endividadas que já estão. Queda continuada das Bolsas.

Em suma, num cenário de deflação podemos esperar taxas de juro baixas mas pouca gente disposta a contrair empréstimos; muitas falências e muito desemprego; como consequência, muita emigração; quebra drástica no consumo e no investimento; economia estagnada senão mesmo em recessão ou, pior ainda, depressão; aumento significativo da pobreza e das tensões sociais em virtude da pressão à baixa dos salários e do desemprego. Os excessos do passado pagam-se assim.

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