22 outubro 2008

Conversa de chacha


A conferência de imprensa dada ontem em Paris por Sarkozy e Durão Barroso, dois homens de cultura católica, foi um feito do arco da velha, e contrasta com a forma protestante de tratar os assuntos relativos à crise financeira.

Nos EUA, num curto espaço de tempo, a crise foi diagnosticada, quantificados os seus efeitos, e adoptadas medidas para lidar com ela. Uma boa parte deste processo foi visto na televisão. O mesmo aconteceu na Grâ-Bretanha.

E na Europa, liderada agora por dois homens de cultura católica? Tudo é opaco. Ninguém sabe muito bem quantificar a dimensão do problema, nem isso é muito importante porque a exactidão não é um atributo da cultura católica. Próprio da cultura católica é atribuir culpas, e foi esse o primeiro objectivo de Sarkozy e Barroso ontem na conferência. A culpa é dos americanos. Ficamos todos na Europa mais tranquilos, sabendo que a culpa não é nossa. Somos uns santinhos.

Em segundo lugar, o proteccionismo. A Europa tinha de se entender, disseram eles, na ajuda a prestar aos bancos e às empresas, caso contrário teríamos aí em breve os bancos e as empresas europeias a serem compradas por estrangeiros.

Em terceiro lugar, não podia faltar uma grandiosa ideia, de preferência sem aplicabilidade prática imediata: devia ser constituido um governo económico na União Europeia a fim de lidar com a crise, disseram eles.

Ao contrário dos americanos que lidaram com o problema em reuniões governamentais no Departamento do Tesouro e no Congresso, parece-me razoavelmente claro que as ideias de Sarkozy e Barroso foram cozinhadas na véspera durante um jantar em Paris.
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Logo que terminaram a conferência de imprensa, os mercados europeus que tinham estado a subir toda a manhã deram a volta e começaram a cair. Conversa de chacha típica da tradição católica, terão pensado os investidores.

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