Vale a pena, como sempre, ler o artigo de Diogo Mainardi, publicado na Veja desta semana. Aqui vai:
"O Eddie Murphy político
John MacCain tem o cabo eleitoral perfeito: Vladimir Putin. O cálculo é simples: cada metro quadrado que a Rússia arranca da Geórgia equivale a um eleitor amedrontado a mais que John MacCain arrebanha nos Estados Unidos. Se é para guerrear, é melhor um presidente guerreiro. Vladimir Putin fez uma campanha porta a porta, derrubando as portas dos georgianos com seus tanque e, candidamente, cabalando votos para John MacCain.
Algumas semanas atrás, Barack Obama reuniu mais de 200 000 pessoas em outra porta, a de Brademburgo, em Berlim. John MacCain, que imediatamente saiu em defesa dos georgianos, talvez conseguisse reunir uns 2000 refugiados no pátio de uma fábrica de fertilizantes em Tblisi. Foi pensando nisso que ele realizou o sonho secreto de todos os homens casados do planeta e despachou sua mulher, Cindy, para a zona de guerra. O melhor conselho que Cindy MacCain teria a dar ao presidente georgiano, Mikhail Saakashvili, seria renunciar às camisas lilases.
Se John MacCain pode contar com um cabo eleitoral do peso de Vladimir Putin, Barack Obama tem de refrear o apoio de celebridades como Bruce Springsteen, Bon Jove e Ben Affleck. A campanha de John MacCain avacalhou Barack Obama, rotulando-o como uma estrela deslumbrada com o próprio sucesso. A imagem colou porque ele sempre soou pomposo demais, cabotino demais, ensaiado demais. Até para reclamar aumento da gaolina ele usa o método Stanislavski.
O fato é que ninguém sabe quem é Barack Obama. Nem ele sabe. Ele é o que os outros desejam que ele seja. Sim, Barack Obama é o primeiro candidato negro da história dos Estados Unidos. Mas, dependendo da platéia, ele pode metamorfosear-se em branco, como o herói da nossa gente, Macunaíma. Barack Obama é o Grande Otelo, meio Paulo José. Ele se apresenta de um jeito na selva e do jeito oposto na casa de Venceslau Pietro Pietra. Barack Obama, mais do que eleitores, tem devotos. Barack Obama simboliza o novo. Mas, em queda nas pesquisas eleitorias, ele aceita a tutela de um velho e escolho Joe Biden para ser companheiro de chapa. Um velho cujo único atributo, além de ter superado uma gagueira setenta anos atrás, é a reconfortante velhice de suas idéias.
Barack Obama foi trombeteado como um candidato capaz de superar as barreiras ideológicas, sociais e raciais dos Estados Unidos e - ajoelhai-vos! - do mundo. Para tentar sustentar essa impostura, ele passou a interpretar uma multiplicidade de papéis, trocando de fantasia a toda a hora, como Eddie Murphy naquelas suas comédias rasteiras, que deram o tom a este artigo. Agora isso mudou. A unicidade de Barack Obama, cada vez mais, parece esconder somente uma constrangedora vacuidade. Quanto mais etéreo ele é, mais prático se torna John MacCain. Aos 72 anos, basta ele fazer de conta que ainda está vivo, lembrando-se de respirar a cada 35 minutos. É por isso que ele poderá ser eleito: ocasionalmente ele respira"
Sem comentários:
Enviar um comentário