A aparição da senhora Sarah Palin no congresso republicano apanhou todos de surpresa e causou, em geral, boa impressão. Tão boa que, aposto, muitos ficaram a pensar se não valeria a pena substituir o próprio candidato do partido, John McCain, por esta nova estrela da política norte-americana na eleição que agora se avizinha. Com franqueza, a ideia até faria sentido. Sarah Palin é uma leoa, é daquelas mulheres que leva tudo à frente e só pára depois de alcançar o objectivo, solução que agradaria ao eleitorado feminino e à franja mais conservadora do partido. Além disso, a candidata a vice-presidente é jovem. Asseguraria uma liderança carismática e de continuidade - algo que John McCain não apresenta. Contudo, as ideias que ontem vimos foram as mesmas do costume: anti-aborto, pró armas, pró Iraque, o tradicional "God Bless America", lóbi a favor da indústria petrolífera, enfim, tudo aquilo que temos visto de George Bush nestes desgraçados últimos oito anos. De resto, a principal táctica de Palin foi ridicularizar Obama. E salientar a sua suposta inexperiência e falta de coragem.
Ora, o que o mundo hoje necessita, cada vez mais, é de que a América reconquiste a sua credibilidade e o seu papel de bússola no equilíbrio da cena internacional. Precisamos de uma América bondosa na gestão do seu poder enquanto principal potência mundial. No plano externo, nos últimos oito anos, os Estados Unidos levaram uma guerra injusta e mentirosa ao Médio Oriente. Fomentaram o ódio contra o Irão. Alimentaram as loucuras de Israel. Incentivaram divisões regionais na Europa de Leste. Legitimaram os abusos da Rússia. Contribuiram para a irrelevância de entidades como as Nações Unidas, o Banco Mundial e a NATO. A América dividiu o mundo e isolou-se perante a comunidade internacional. Os reflexos da sua acção são inúmeros como, por exemplo, a actual crise com a Rússia, a caminhar rapidamente para uma situação semelhante à dos anos 60. No plano interno, a política de Bush também não fez melhor. As desigualdades sociais nos Estados Unidos aumentam a cada dia que passa e a classe média está em vias de extinção. O ensino produz analfabrutos. As instituições do Estado foram corrompidas pelo Patriot Act. E a banca, pela primeira vez desde a Grande Depressão, está à beira da falência.
Precisamos de uma alternativa. E rápido. Os Estados Unidos, a exemplo das restantes potências, tem de actuar sobre a condição da sua classe média, cuja deterioração é uma bomba prestes a explodir. E tem de manter as armas longe de maluquinhos "trigger happy" como McCain ou senhoras que não olham a meios para atingir os fins como Palin. O par republicano representa o mesmo establishment, facilmente agravará os problemas da América e a sua relação com o mundo. Obama não. O candidato democrata defende um conjunto de medidas, em particular no domínio da fiscalidade, da saúde e do ensino cujo propósito é beneficiar a classe média. E presta-se ao multiculturalismo e à diplomacia. Na minha opinião, o mundo não precisa de heróis ou candidatos a tal. Pelo contrário, precisamos de gente com bom senso e muita calminha. Alguém que ataque o verdadeiro drama da sociedade moderna: o desaparecimento da classe média e a cleptocracia lobista que domina a política e a democracia, em particular nos Estados Unidos. Decididamente, Obama.
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