15 setembro 2008

A Lehman faliu


"New York based Lehman Brothers, founded 158 years ago, said early today that it plans to file for Chapter 11 bankrupcy protection after failing to find a buyer", Bloomberg News

Nos últimos meses, defendi em diversas ocasiões a tese de que a Lehman Brothers não seria uma nova Bear Stearns. Pois bem, a notícia de hoje prova que estava equivocado. Sob circunstâncias muito adversas, os mercados tendem a oscilar para situações extremas. Infelizmente, foi o que se verificou uma vez mais. A falência da Lehman é a maior de sempre em Wall Street, representa uma dívida global de 613 mil milhões de dólares - superior à falência da Worldcom em 2002.

O fim da Lehman é o mais recente caso associado ao subprime e títulos afins que, desde há um ano para cá, se amontoam em Wall Street. De acordo com a Bloomberg, "Last year, it underwrote more mortgage backed securities than any other firm, accumulating an $85 billion portfolio, almost four times the $22.5 billion of shareholder equity Lehman had (...) ". Os números são avassaladores. A correcção no mercado imobiliário, associada ao respectivo impacto nas titularizações que lhe estão subjacentes, acabou por resultar nos eventos deste fim de semana: negociações de emergência, mas seguidas do anúncio da falência. Tudo isto, apesar dos esforços da Lehman em aumentar as suas reservas através da redução substancial da sua exposição ao mercado de hipotecas, da venda de acções próprias avaliadas em 6 mil milhões de dólares, da abertura do capital a clientes institucionais de grande envergadura e, por fim, da intenção de vender a sua jóia da coroa - a Neuberger Berman. Contudo, estas medidas de nada valeram e a empresa teve mesmo de declarar falência.

E agora, o que vai acontecer? Estão já em curso duas iniciativas no sentido de travar o efeito de contágio.

Primeiro, o seguro providenciado pela Securities Investors Protection Corp, que já foi activado no sentido de acautelar as contas dos clientes da Lehman Brothers. De acordo com as regras da SEC, as contas de clientes têm de estar segregadas do balanço do banco. Têm de ser contas autónomas, a exemplo do que também acontece com as gestoras de activos em Portugal. O seguro cobre as contas até um certo valor (julgo que até 40 milhões de dólares), por isso, os clientes que possuem contas até esse valor deverão estar a salvo de qualquer problema. Acima desse valor, poderá não ser o caso. Entretanto, o International Swaps and Derivatives Association, que inclui 218 instituições financeiras, já está a triangular informação entre as posições detidas pela Lehman, por terceiros e a liquidar aquelas que se cancelam entre si. Portanto, onde é que se encontra o risco de contágio? Está no mercado não cotado ("Over the counter") onde a maioria dos produtos estruturados emitidos pela Lehman se transaccionavam e no qual esta era um agente dominante. Ou seja, todas as contrapartes da Lehman neste mercado estão em risco porque aquela entidade, provavelmente, não será capaz de honrar as suas obrigações. É, por esta razão, que os mercados accionistas estão hoje em queda livre. Existe muita incerteza acerca do potencial impacto que a falência da Lehman poderá vir a ter no valor da carteira de outras instituições financeiras. Na minha opinião, os Hedge Funds são aqueles que estão mais susceptíveis a eventuais rupturas. O que me leva à segunda iniciativa de controlo de risco já despoletada: a reacção do FED e de um consórcio de bancos internacionais. Na sequência da falência da Lehman, o FED decidiu relaxar ainda mais o conjunto de títulos admissíveis como colateral nos empréstimos concedidos aos bancos no mercado interbancário. Neste momento, aceita um pouco de tudo, até mesmo acções, no sentido de facilitar o acesso à liquidez que algum banco venha a necessitar. Além disso, um consórcio de grandes bancos internacionais pôs também em marcha algo de semelhante: uma linha de crédito de 70 mil milhões de dólares para o que der e vier.

Em suma, o sistema financeiro está em alerta máximo. Contudo, alguns analistas defendem que estamos em terrenos nunca antes vistos.
(Nota: Este texto é a tradução integral do meu artigo original "Lehman has failed" publicado hoje no meu blogue de empresa)

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