12 setembro 2008

Impunidade


Há umas semanas atrás quando se jogou o primeiro clássico do ano no Estádio da Luz, a contar para o campeonato, um adepto do Benfica decidiu invadir o campo e apertar o pescoço ao fiscal de linha. Confesso que não percebi lá muito bem aquele gesto. O jogo estava ainda no início e a arbitragem não estava a ser polémica. Contudo, fiquei perplexo com a aparente impunidade com que a invasão de campo foi tratada pela polícia. Ainda houve umas bastonadas, mas na altura fiquei com a sensação de que o homem se teria perdido no meio da multidão sem ser detido.

Hoje, enquanto via as notícias da hora de almoço, vi finalmente imagens que me sossegaram. Afinal, o adepto foi mesmo detido e identificado - algo que não era difícil fazer em função do peculiar cabelo facial que o dito cujo ostenta. Aliás, já ontem ou anteontem tinha visto uma fotografia do senhor num jornal desportivo. Pelos vistos, é um apaniguado carismático que se movimenta - ou se pavoneia?! - em frente às câmaras como se a sua invasão de campo, seguida de agressão ao fiscal de linha, fosse a coisa mais normal e saudável do mundo. Só mesmo em Portugal. E, deixem-me acrescentar, só mesmo com o Benfica!

Se este episódio tivesse tido lugar em Inglaterra, aquele adepto nunca mais entrava num estádio de futebol. Quanto muito, ficaria a assistir via TV, na esquadra mais próxima de si, como por lá se faz com os Hooligans identificados e banidos das bancadas. O estádio, porventura, seria interditado durante alguns jogos. E o clube visitado talvez perdesse uns pontos na secretaria. Por cá não. A secretaria vale mais que o civismo. O clube safa-se pagando uma mísera multa. E o adepto, perante milhares na assistência, transforma-se em estrela mediática!

Enfim, nada me move contra aquele senhor de barba esquisita, se calhar até é uma jóia de pessoa, mas a impunidade com que o caso foi tratado e esquecido é invulgar. Infelizmente, é por estas e por outras - a rábula do homem baleado na esquadra também é fantástica - que em Portugal a justiça e o respeito pela autoridade caíram em desgraça. Triste. E ao mesmo tempo perigoso.

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