Quando Ronald Reagan ganhou, pela primeira vez, as eleições presidenciais norte-americanas, a guerra-fria vivia o seu mais delicado momento. Reagan chegou à Casa Branca com 70 anos de idade e as críticas que lhe moveram, antes e imediatamente depois desse instante, eram arrasadoras: velho, boçal, militarista, inculto, moralista e fanático religioso, sem preparação para enfrentar a complexidade do mundo em que vivia, insensato e, seguramente, o Anjo do Apocalipse de uma iminente guerra nuclear na qual ele nos lançaria a todos. Em contrapartida, a intelligentsia da época acenava com a sensatez, o equilíbrio, a moderação e com os quatro anos de paz sacrificada que Jimmy Carter, o abnegado plantador de amendoins da Geórgia, garantira à América e ao Mundo.
Reagan utilizou sempre uma elementar clareza para explicar ao que vinha. Um dos seus slogans de campanha era, aliás, uma formulação sintética notável sobre os seus princípios: «Back to basics». Tratava-se, no fim de contas, de propor ao país o regresso aos valores fundacionais e fundamentais que o tinham feito grande: uma concepção moral do serviço público, a distinção clara entre o justo e o injusto, o certo e o errado, o bem e o mal, livre-iniciativa, economia de mercado, governo reduzido, responsabilidade individual e a recuperação do estatuto de grande potência internacional, que a Guerra do Vietname abalara profundamente. Os valores conservadores da América estavam todos lá: Reagan foi contra a liberalização do aborto, defendia a família, falava em valores morais (lembram-se da «Moral Majority»?), invocava Deus a todo o momento e pedia a sua protecção para o país de que era Presidente. Em economia e na concepção do estado e da relação deste com os cidadãos, era assumidamente liberal. Na política internacional, Ronald Reagan não podia ter sido mais claro: obedecendo aos princípios clássicos da política, traçou uma linha no chão e dividiu o Mundo entre «nós» e «eles», o Mundo Livre e o Império Soviético, ao qual chamou, utilizando categorias que não cabem preferencialmente no espaço da política, o «Império do Mal».
Não pode deixar de espantar a similitude das críticas hoje movidas a John MacCain, com aquelas que foram, naquele outro tempo, endossadas a Ronald Reagan. Também MacCain é «velho», «militarista», «religioso fanático» e «incapaz» de governar a América e lidar com a complexidade do Mundo em que vive. Para mais, num Mundo em que o perigo terá sido criado por ela, à semelhança do que sucedera no Vietname. A lógica é exactamente igual: os republicanos provocaram a queda da América lançando-a numa guerra insensata, logo, não podem ser os republicanos a reparar o mal feito.
E o que diz a isto o agora candidato republicano? Apenas o que disse, há vinte e sete anos, Ronald Reagan: que a América tem de regressar aos seus valores primordiais, que precisa de acreditar nos seus cidadãos, de lhes dar responsabilidade, liberdade, menos governo, menos impostos e mais mercado. No fim de contas, do que a América precisa é de «back to basics», como o candidato não deixou de enfatizar no discurso que encerrou, ontem, a Convenção Republicana. Foi isto que os Republicanos conseguiram, nos seus melhores momentos, dar à América, e que os Democratas não quiseram nunca dar-lhe, nem mesmo nos seus momentos melhores.
E em política internacional, numa altura em que o Mundo volta a estar perigoso pelo ressurgimento dos velhos antagonistas de Moscovo e de muitos outros avulsos, MacCain explicou com clareza que as relações internacionais não são domínio próprio para a retórica dos bons sentimentos e das estratégias enviesadas. Elas carecem de clareza, determinação e de força. Porque, se não nos quisermos prolongar muito na história, temos sempre à mão as actuais ditas guerras do Médio Oriente onde intervêm os Estados Unidos. É bom não esquecer que, antes delas, as Torres Gémeas não caíram por acaso, naquele fatídico dia de 11 de Setembro de 2001.
Reagan utilizou sempre uma elementar clareza para explicar ao que vinha. Um dos seus slogans de campanha era, aliás, uma formulação sintética notável sobre os seus princípios: «Back to basics». Tratava-se, no fim de contas, de propor ao país o regresso aos valores fundacionais e fundamentais que o tinham feito grande: uma concepção moral do serviço público, a distinção clara entre o justo e o injusto, o certo e o errado, o bem e o mal, livre-iniciativa, economia de mercado, governo reduzido, responsabilidade individual e a recuperação do estatuto de grande potência internacional, que a Guerra do Vietname abalara profundamente. Os valores conservadores da América estavam todos lá: Reagan foi contra a liberalização do aborto, defendia a família, falava em valores morais (lembram-se da «Moral Majority»?), invocava Deus a todo o momento e pedia a sua protecção para o país de que era Presidente. Em economia e na concepção do estado e da relação deste com os cidadãos, era assumidamente liberal. Na política internacional, Ronald Reagan não podia ter sido mais claro: obedecendo aos princípios clássicos da política, traçou uma linha no chão e dividiu o Mundo entre «nós» e «eles», o Mundo Livre e o Império Soviético, ao qual chamou, utilizando categorias que não cabem preferencialmente no espaço da política, o «Império do Mal».
Não pode deixar de espantar a similitude das críticas hoje movidas a John MacCain, com aquelas que foram, naquele outro tempo, endossadas a Ronald Reagan. Também MacCain é «velho», «militarista», «religioso fanático» e «incapaz» de governar a América e lidar com a complexidade do Mundo em que vive. Para mais, num Mundo em que o perigo terá sido criado por ela, à semelhança do que sucedera no Vietname. A lógica é exactamente igual: os republicanos provocaram a queda da América lançando-a numa guerra insensata, logo, não podem ser os republicanos a reparar o mal feito.
E o que diz a isto o agora candidato republicano? Apenas o que disse, há vinte e sete anos, Ronald Reagan: que a América tem de regressar aos seus valores primordiais, que precisa de acreditar nos seus cidadãos, de lhes dar responsabilidade, liberdade, menos governo, menos impostos e mais mercado. No fim de contas, do que a América precisa é de «back to basics», como o candidato não deixou de enfatizar no discurso que encerrou, ontem, a Convenção Republicana. Foi isto que os Republicanos conseguiram, nos seus melhores momentos, dar à América, e que os Democratas não quiseram nunca dar-lhe, nem mesmo nos seus momentos melhores.
E em política internacional, numa altura em que o Mundo volta a estar perigoso pelo ressurgimento dos velhos antagonistas de Moscovo e de muitos outros avulsos, MacCain explicou com clareza que as relações internacionais não são domínio próprio para a retórica dos bons sentimentos e das estratégias enviesadas. Elas carecem de clareza, determinação e de força. Porque, se não nos quisermos prolongar muito na história, temos sempre à mão as actuais ditas guerras do Médio Oriente onde intervêm os Estados Unidos. É bom não esquecer que, antes delas, as Torres Gémeas não caíram por acaso, naquele fatídico dia de 11 de Setembro de 2001.
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