Continuando a discorrer sobre a direita portuguesa, proponho que se introduza agora um critério de utilidade: de que nos serviu ela nestes trinta e quatro anos que leva a III República?
Começando pelo princípio, logo após o 25 de Abril de 1974, a direita tinha a obrigação de contribuir para uma saída airosa para os territórios ultramarinos, que evitasse a sua pura entrega pura e simples ao bloco soviético. Que me lembre, na altura, para além de alguns opúsculos editados, nada foi feito. A direita preferiu entreter-se a aprofundar as suas divisões e a atribuir culpas recíprocas sobre a situação em que se encontrava. Em boa verdade, também não é de espantar. Se em quarenta anos de poder a solução não surgiu, não era depois quando já lá não estava que a haviam de encontrar.
A direita também não foi capaz de resistir ao PREC, às nacionalizações e ao avanço selvagem do Partido Comunista e da extrema-esquerda. Essa despesa ficou a cargo fundamentalmente de dois homens, Mário Soares e Emídio Guerreiro, dois socialistas portugueses históricos. E a alguns militares de valor, como Jaime Neves, que nunca quiseram saber da política para nada.
Também não impediu a aprovação de uma Constituição socialista, planificadora e avessa à propriedade e à iniciativa privada. É certo que o CDS votou contra a sua aprovação, mas o PSD votou a favor.
Ao governo da AD, a Francisco Sá Carneiro e a Diogo Freitas do Amaral, é devida a normalização do regime. Mas a morte prematura do primeiro-ministro lançou a AD no descalabro e conduziu-a a um fim inglório. Foi sol de pouca dura, que revelou que a direita não tinha qualquer substância.
A revisão constitucional, que retirou o regime da caserna militar e o devolveu à cidadania, foi obra conjunta do PS e do PSD. Não foi, longe disso, um ex-libris da direita, que, aliás, andava em boa parte seduzida pelo canto de sereia do General Ramalho Eanes.
Os dez anos de cavaquismo são considerados o melhor período da direita portuguesa. É facto que o país conheceu algum desenvolvimento e que as privatizações permitiram alguma normalização da vida do país. Mas, não obstante o papel meritório desempenhado por Aníbal Cavaco Silva, é também certo que, como ele ou sem ele, a nossa adesão às Comunidades Europeias exigiria a conversão do modelo colectivista em que nos encontrávamos numa economia de mercado. Para além de que muito do desenvolvimento alcançado se deveu, em boa medida, aos fundos estruturais comunitários. Em contrapartida, durante este período, o Estado cresceu descontroladamente e não se redimensionou nas suas funções.
Por último, o governo de Durão Barroso não só não reformou coisa nenhuma, como, pelo fim que teve, deu ao país uma ideia de irresponsabilidade e leviandade da direita partidária, que lhe custou e custará muito caro.
Em contrapartida, em trinta e quatro anos de vida, a direita não conseguiu conceber uma ideia para Portugal que se distinga claramente do que a esquerda diz e faz, principalmente a esquerda do Partido Socialista. O famoso «bloco central» não existe somente nos interesses que giram em torno do Estado. Ele é, sobretudo, uma forma de o encarar, uma mentalidade comum as elites do PS e do PSD, que continuam a ver no Estado e no Governo os dois pilares principais do regime e do país.
Por tudo isto, pode bem dizer-se que a direita portuguesa nos tem servido de muito pouco neste regime, e que quase nada fez que o PS não pudesse ter feito de forma muito semelhante. E não se antevê que possa vir a mudar,
Começando pelo princípio, logo após o 25 de Abril de 1974, a direita tinha a obrigação de contribuir para uma saída airosa para os territórios ultramarinos, que evitasse a sua pura entrega pura e simples ao bloco soviético. Que me lembre, na altura, para além de alguns opúsculos editados, nada foi feito. A direita preferiu entreter-se a aprofundar as suas divisões e a atribuir culpas recíprocas sobre a situação em que se encontrava. Em boa verdade, também não é de espantar. Se em quarenta anos de poder a solução não surgiu, não era depois quando já lá não estava que a haviam de encontrar.
A direita também não foi capaz de resistir ao PREC, às nacionalizações e ao avanço selvagem do Partido Comunista e da extrema-esquerda. Essa despesa ficou a cargo fundamentalmente de dois homens, Mário Soares e Emídio Guerreiro, dois socialistas portugueses históricos. E a alguns militares de valor, como Jaime Neves, que nunca quiseram saber da política para nada.
Também não impediu a aprovação de uma Constituição socialista, planificadora e avessa à propriedade e à iniciativa privada. É certo que o CDS votou contra a sua aprovação, mas o PSD votou a favor.
Ao governo da AD, a Francisco Sá Carneiro e a Diogo Freitas do Amaral, é devida a normalização do regime. Mas a morte prematura do primeiro-ministro lançou a AD no descalabro e conduziu-a a um fim inglório. Foi sol de pouca dura, que revelou que a direita não tinha qualquer substância.
A revisão constitucional, que retirou o regime da caserna militar e o devolveu à cidadania, foi obra conjunta do PS e do PSD. Não foi, longe disso, um ex-libris da direita, que, aliás, andava em boa parte seduzida pelo canto de sereia do General Ramalho Eanes.
Os dez anos de cavaquismo são considerados o melhor período da direita portuguesa. É facto que o país conheceu algum desenvolvimento e que as privatizações permitiram alguma normalização da vida do país. Mas, não obstante o papel meritório desempenhado por Aníbal Cavaco Silva, é também certo que, como ele ou sem ele, a nossa adesão às Comunidades Europeias exigiria a conversão do modelo colectivista em que nos encontrávamos numa economia de mercado. Para além de que muito do desenvolvimento alcançado se deveu, em boa medida, aos fundos estruturais comunitários. Em contrapartida, durante este período, o Estado cresceu descontroladamente e não se redimensionou nas suas funções.
Por último, o governo de Durão Barroso não só não reformou coisa nenhuma, como, pelo fim que teve, deu ao país uma ideia de irresponsabilidade e leviandade da direita partidária, que lhe custou e custará muito caro.
Em contrapartida, em trinta e quatro anos de vida, a direita não conseguiu conceber uma ideia para Portugal que se distinga claramente do que a esquerda diz e faz, principalmente a esquerda do Partido Socialista. O famoso «bloco central» não existe somente nos interesses que giram em torno do Estado. Ele é, sobretudo, uma forma de o encarar, uma mentalidade comum as elites do PS e do PSD, que continuam a ver no Estado e no Governo os dois pilares principais do regime e do país.
Por tudo isto, pode bem dizer-se que a direita portuguesa nos tem servido de muito pouco neste regime, e que quase nada fez que o PS não pudesse ter feito de forma muito semelhante. E não se antevê que possa vir a mudar,
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