Deve a direita procurar-se na acção dos que a reclamam ou antes nos princípios que a antecedem e fundamentam? O Corcunda não hesita em afirmar a segunda hipótese. Tem toda a razão, e a história da direita, não apenas da portuguesa mas da generalidade daquela marcou o século anterior, evidencia-o à saciedade. Essa direita, ora a que se quis revolucionária, ora a que se quis conservadora, esgotou-se quase sempre na acção individual de um ou de alguns poucos homens, a quem prazenteiramente se chamava, em dialectos variados, «o chefe». E o que «o chefe» dizia, fazia ou pensava era inquestionável. Em vez de seguir princípios e valores, a direita seguiu «chefes» e programas.
De facto, a direita do século passado esqueceu «que o Homem é o elemento mais elevado na determinação da acção humana», e satisfez-se com baças imagens de colectivismos estéreis (e muitas vezes histéricos) do Estado, que erradamente confundiu com a Comunidade e a(s) Nação(ões). O estatismo foi o bezerro de ouro que essa direita venerou. Isso deveu-se a algumas confusões e a outras tantas precipitações. Confundiram-se valores de esquerda (o voluntarismo político, a revolução, o colectivismo) com os da direita (o individualismo, a tradição, o evolucionismo, o sentimento comunitário), e seguiram-se caudilhos e césares que não representavam qualquer ideia de liberdade e de respeito por aquele que é o seu destinatário único, o Homem.
O que deve distinguir, em última instância, a esquerda da direita é a perfeita noção de que o Homem antecede o Estado, precede o domínio do político, e que é ele, e não aquele, que é detentor do livre-arbítrio, faculdade que nenhum poder deverá condicionar. O Corcunda fundamenta seguramente essa liberdade interior na graça divina. É ela quem, de acordo com a teologia, nos torna mais próximos de Deus, à imagem e semelhança de quem teremos sido criados. Tal como Deus, também o Homem pode decidir e escolher incondicionalmente. A liberdade será, assim, o sopro divino vertido sobre a humanidade. A esquerda, por sua vez, não acredita no livre-arbítrio. Ela entende que a liberdade do Homem é, em si mesma, perigosa, e que se entregue a si mesmo o Homem representa um perigo para si e para os outros. Por isso, ela idealizou uma estrutura que o substitui, condiciona e limita na decisão, que sacralizou por uma simbólica majestática que todos os dias sentimos muito perto de nós, e a quem atribuiu poderes e funções próprios de seres omniscientes.
Não sei se a razão última do livre-arbítrio tem necessariamente de ser procurada, como pretende o Corcunda. Duvido mesmo que todos aqueles que aspirem a defender o direito à liberdade do Homem (que o Corcunda provavelmente não aceitará como sinónimo de liberdade individual), consigam encontrá-la. Julgo, portanto, que ela poderá ser fundamental para aqueles que a têm por certa, mas não me parece determinante para os que a não consigam achar ou não se encontrem disponíveis para a procurar. Até porque essas coisas, como bem sabe o Corcunda que não é, de todo, um herético, são mais resultado de um apelo do que de uma procura.
Penso, por conseguinte, que uns e outros poderão contribuir para o que deverá ser uma direita que defenda valores e princípios, em vez de simples métodos. Mas, para isso, é muito importante separar águas e evitar que se caia nos mesmos erros do passado. E é preciso juntar, em vez de excluir. Construir, em vez de destruir. Neste domínio tem o Corcunda muito a fazer junto do seu público leitor mais fiel.
De facto, a direita do século passado esqueceu «que o Homem é o elemento mais elevado na determinação da acção humana», e satisfez-se com baças imagens de colectivismos estéreis (e muitas vezes histéricos) do Estado, que erradamente confundiu com a Comunidade e a(s) Nação(ões). O estatismo foi o bezerro de ouro que essa direita venerou. Isso deveu-se a algumas confusões e a outras tantas precipitações. Confundiram-se valores de esquerda (o voluntarismo político, a revolução, o colectivismo) com os da direita (o individualismo, a tradição, o evolucionismo, o sentimento comunitário), e seguiram-se caudilhos e césares que não representavam qualquer ideia de liberdade e de respeito por aquele que é o seu destinatário único, o Homem.
O que deve distinguir, em última instância, a esquerda da direita é a perfeita noção de que o Homem antecede o Estado, precede o domínio do político, e que é ele, e não aquele, que é detentor do livre-arbítrio, faculdade que nenhum poder deverá condicionar. O Corcunda fundamenta seguramente essa liberdade interior na graça divina. É ela quem, de acordo com a teologia, nos torna mais próximos de Deus, à imagem e semelhança de quem teremos sido criados. Tal como Deus, também o Homem pode decidir e escolher incondicionalmente. A liberdade será, assim, o sopro divino vertido sobre a humanidade. A esquerda, por sua vez, não acredita no livre-arbítrio. Ela entende que a liberdade do Homem é, em si mesma, perigosa, e que se entregue a si mesmo o Homem representa um perigo para si e para os outros. Por isso, ela idealizou uma estrutura que o substitui, condiciona e limita na decisão, que sacralizou por uma simbólica majestática que todos os dias sentimos muito perto de nós, e a quem atribuiu poderes e funções próprios de seres omniscientes.
Não sei se a razão última do livre-arbítrio tem necessariamente de ser procurada, como pretende o Corcunda. Duvido mesmo que todos aqueles que aspirem a defender o direito à liberdade do Homem (que o Corcunda provavelmente não aceitará como sinónimo de liberdade individual), consigam encontrá-la. Julgo, portanto, que ela poderá ser fundamental para aqueles que a têm por certa, mas não me parece determinante para os que a não consigam achar ou não se encontrem disponíveis para a procurar. Até porque essas coisas, como bem sabe o Corcunda que não é, de todo, um herético, são mais resultado de um apelo do que de uma procura.
Penso, por conseguinte, que uns e outros poderão contribuir para o que deverá ser uma direita que defenda valores e princípios, em vez de simples métodos. Mas, para isso, é muito importante separar águas e evitar que se caia nos mesmos erros do passado. E é preciso juntar, em vez de excluir. Construir, em vez de destruir. Neste domínio tem o Corcunda muito a fazer junto do seu público leitor mais fiel.
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