10 maio 2008

contra-intuitivo

Todos nascemos com um conhecimento intuitivo sobre o mundo que nos rodeia. Uma espécie de saber que abrange diversas áreas científicas e que é indispensável à nossa sobrevivência. Não é porém um conhecimento científico, é mais um modo inato de olhar para a realidade, que serve para resolver problemas do quotidiano.
Na biologia, diagnosticamos com facilidade a morte de um ser vivo. Na economia, compreendemos o sistema de trocas, temos uma noção do princípio da utilidade decrescente e até da divisão do trabalho. Na física, compreendemos a queda livre e a gravidade. Tudo isto sem professores nem explicações.

O problema é que este conhecimento primitivo não chega para compreendermos o mundo moderno em que vivemos e pode até dificultar-nos a aprendizagem, porque muitas leis científicas são contra-intuitivas. Vejamos, por exemplo, a queda livre de objectos: Aristóteles formulou que a velocidade da queda livre de um objecto era directamente proporcional ao seu peso. Esta formulação correspondia directamente à nossa intuição e por isso foi aceite por todos.
Como os objectos mais pesados, em queda livre, constituem um perigo e temos de fugir deles o mais depressa possível, acreditamos que caem mais depressa. Galileu, o pai da ciência moderna, não se deixou levar pelas aparências e resolveu testar cientificamente a hipótese de Aristóteles. Subiu à Torre de Pisa (segundo a lenda) e deixou cair do cimo duas balas de canhão, uma dez vezes mais pesada do que a outra, e observou que chegavam ao chão ao mesmo tempo. Aristóteles estava errado, mas foram precisos 1900 anos e o génio de Galileu para o demonstrar.

A maior parte dos nosso concidadãos continua a acreditar que os corpos mais pesados caiem mais depressa e não de deixam convencer do contrário. Este “conhecimento” primitivo serve para nos defendermos de uma garrafa de cerveja que um bêbado atire pela janela fora, mas não nos dá asas. Precisamos de elites educadas, para nos explicarem como funciona o mundo. Uma populaça que desdenhe das elites está condenada ao fracasso.

A democracia, se for um governo da populaça ignorante, sem respeito pelos direitos individuais e pela liderança das elites, não vai longe. Regressará ao tribalismo, às trocas directas, aos julgamentos populares, à xenofobia, ao misticismo e à arbitrariedade dos mais fortes. Não tenho qualquer dúvida sobre esta afirmação, mas suponho que será um conhecimento contra-intuitivo para a maior parte dos portugueses.

1 comentário:

Unknown disse...

Um bom texto.