Santana Lopes marcou sempre a sua carreira política pela intuição e pelo risco. Até ao momento em que substituiu Durão Barroso nunca falhara gravemente, e tinha o PSD e boa parte do país rendidos à sua pessoa. A decisão de aceitar um poder que não conquistara em eleições, que não era legitimamente seu, retirou-lhe força pessoal, ânimo e autoridade. Condenou-o a um fracasso inevitável, de que o próprio se apercebeu – e arrependeu, no exacto momento em que aceitou ser primeiro-ministro legatário de José Manuel Durão Barroso. Depois foi a umas eleições penosas, em que se deixou arrastar na mais lamentável campanha eleitoral que alguma vez se viu fazer no PSD. Derrotado pela primeira vez em urnas, quebrado o mito da sua invencibilidade, Santana regressou às bases. Menezes, incapaz de ancorar em Lisboa, socorreu-se dos seus préstimos, e Santana prestou-lhos com zelo e lealdade. Como lhe convinha, como não podia deixar de ser e, acredito, como vai ao encontro do seu carácter. Agora, os seus seguidores, os descamisados de Menezes, os «populistas» do partido, as bases do «PPD», voltam-se novamente para ele. O cálculo que lhe vai no espírito é o de escolher entre marcar, agora, posição para o futuro, ou arriscar não comparecer, resguardando-se para mais tarde, mas podendo perder a sua posição de líder de facção para outro, por exemplo, para Pedro Passos Coelho. A tentação é, de novo, grande, e pelo que se tem visto e ouvido Santana estará prestes a ceder. Todavia, faria bem em resguardar-se. Em fazer-se mais desejado, em vez de continuar a depreciar-se com ligeireza. O tempo político de Santana, se é que ele ainda o tem, não é certamente este. O tempo, agora, é daqueles que sempre se lhe opuseram, à sua pessoa, ao seu estilo, à sua representatividade. E mais um passo em falso ser-lhe-á definitivamente fatal.
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