03 fevereiro 2008

Poder paternal


A EDP prepara-se para lançar em bolsa 20 a 25% da sua divisão de renováveis, que inclui os seus activos eólicos. Os analistas avaliam a EDP Renováveis em 10 a 12 mil milhões de euros. Por isso, o "spin-off" da divisão e a sua posterior OPV permitirão à EDP encaixar cerca de 3 mil milhões de euros. Segundo a imprensa deste fim de semana, a operação foi aprovada pelo accionista Estado - como não podia deixar de ser - em particular, pelo próprio PM que se envolveu pessoalmente no dossier. Se a operação se concretizar, a EDP Renováveis será a segunda maior cotada do mundo no sector. A empresa tem agora uma capacidade instalada de 3,6 GW. A expectativa da EDP é duplicar este valor até 2010.

Em Portugal não temos petróleo. Mas temos água, vento, sol e mar. A energia hídrica é hoje o mais importante recurso energético nacional. A eólica vem logo a seguir. A energia solar e a das ondas marítimas completam o portfolio energético português. Só falta o nuclear, que por cá não se discute devido a tabu, mas que noutros países europeus é utilizado com grande intensidade na produção de electicidade. A EDP, através da sua aposta estratégica na energia eólica, está a ir de encontro às recentes sensibilidades mundiais no que diz respeito a novas fontes energéticas, mais limpas e independentes dos combustíveis fósseis.

A ideia de lançar a EDP Renováveis em bolsa faz todo o sentido. Mas não se entende a decisão de excluir os activos hídricos. É que são estes os activos mais valiosos da nova empresa. A energia eólica, para já, é apenas uma história de capacidade instalada. Não é ainda um case study em matéria de vendas e comercialização. O próprio investimento realizado pela EDP na eólica tem sido conduzido a um custo muito elevado. Foi o caso, em particular, da estrondosa aquisição realizada nos Estados Unidos - a Horizon - por 2,1 mil milhões de euros. Nos meios financeiros, há muito que se comenta que o valor pago pela Horizon foi absurdamente elevado. Além de que a contraparte do negócio foi, nem mais nem menos, o mais sagaz banco de investimento no mundo: a Goldman Sachs.

Ao lançar a empresa em bolsa, o Governo português criará um "líder nacional" no mercado internacional das empresas energéticas cotadas. O impacto mediático será grande. Sobretudo num mundo de negócios que, cada vez mais, exige escala e dimensão. A decisão evidenciará também a preocupação do executivo de Sócrates em, à boa maneira norte-americana, apoiar o mercado de acções e torná-lo um assunto de interesse nacional. Contudo, o desafio final será demonstrar que os activos eólicos são mesmo rentáveis e que não dependem de preços fixados por decreto lei.

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