Numa altura em que as direitas liberais e conservadoras da blogosfera portuguesa parecem estar, outra vez, em animada zaragata, reafirma-se, pela milionésima vez, a necessidade de estabelecer divisões entre o que alguns chamam «verdadeiros» e «falsos» liberais, de modo a separar, finalmente, a «direita caduca» de uma «direita nova», emergente e viçosamente liberal. Ora, se a intenção me parece muito pouco liberal, o critério, esse, afigura-se-me completamente racionalista e construtivista.
De facto, uma das marcas da personalidade do liberalismo clássico é o evolucionismo social e institucional. Qualquer liberal clássico que se preze, funda a sua interpretação da evolução da sociedade na evolução lenta e sedimentada das instituições e das pessoas que lhes dão vida, sendo sempre muito avesso ao voluntarismo baseado na «clarividência» da razão. É aquela velha história, a que Hayek frequentemente se referia, de que «os factos são mais o resultado dos nossos actos do que das nossas intenções». Assim, todos os movimentos social e politicamente ordenadores são vistos com desconfiança pelos liberais. Donde, a disposição, quase heróica, de enterrar a «velha direita», para «fundar» uma «nova direita» é uma intenção simpática, mas imprópria do verdadeiro espírito liberal.
Estranhamente, não ocorre ao espírito dos re-fundadores a razão pela qual costumam falhar as suas intenções. Adianto duas razões: ou porque a direita portuguesa não pretende ser outra coisa, ou porque não lhe dizem nada de melhor. A direita portuguesa é influenciada pelo catolicismo? Claro que sim! A direita portuguesa é mais estatista do que liberal? Inequivocamente! A direita portuguesa duvida do indivíduo, do mercado e da liberdade? Também é, em parte, verdade. Contudo, a direita portuguesa é assim há séculos, E não sei o que será melhor: se aturá-la como é, ou tentar mudá-la a golpes de retórica inflamada, contra tudo o que foi a sua história e a sua tradição.
E é aqui temos um outro e importante problema: se esta é a «velha» direita que não é liberal, onde está a nova direita liberal? É que, muito francamente, para além de um ou outro comentador, até hoje, medianamente reconhecidos pelo mercado (um bom critério liberal, é bom não esquecer) não há, pelo menos que se veja, um conjunto de ideias e de valores, nem de pessoas que as saibam defender, sem que se desentendam ciclicamente, por razões que são invariavelmente sempre pessoais.
Com tanto liberalismo puro e duro, com tamanhos talentos inovadores, com semelhante revolução copérnica na direita liberal, nem sequer um livrito, com princípio, meio e fim, que explicasse o que é isso do liberalismo, esta fantástica nova direita foi capaz de produzir, ao fim de tanto tempo. Não sabendo, embora, onde possa conhecer, com cabeça, tronco e membros, esta nova e emergentíssima direita, sei, porém, onde a nunca encontrarei. Por exemplo, aqui e aqui, onde a vejo frequentemente, muito mais vezes do que me parece que lá devia estar.
Ora, ensinam-nos os autores clássicos do liberalismo, que só se troca uma coisa por outra, quando se fica com melhor. A dita direita liberal é capaz de oferecer o quê ao seu mercado de clientes, para além das cíclicas trapalhadas e zaragatas em que se mete, invariavelmente sobre questões que deviam ser da intimidade de cada um, entre elas, a religião e a sexualidade? É isto que a nova-direita-liberal-que-se-quer-separar-da-velha-direita-conservadora-e-arcaica tem para oferecer, em vez de argumentar em favor dos seus pontos de vista, a fim de convencer, desde logo, a «outra» direita de que há um melhor caminho para ela? Não se espante, então, se lhe não prestarem qualquer atenção.
Por fim, quando, logo a seguir ao 25 de Abril, um tipo qualquer (julgo que o Mitterrand) disse que a direita portuguesa era «a mais estúpida da europa», não o disse por ela ser especialmente ultramontana, católica ou conservadora. Não o era, ou melhor, não o pretendia ser na altura, quando até o CDS e o PSD se pretendiam «vias originais» para o socialismo ou para uma sociedade sem classes, e procuravam desalmadamente dizer-se de centro e de centro-esquerda. Nessa altura, a direita francesa, gaulista, messiânica e autoritária era muito mais retrógrada do que a nossa. E a espanhola, a braços com a herança não digerida de Franco. A razão pela qual o cavalheiro proclamou a «histórica» frase foi porque, em Portugal, nessa altura, a direita não se conseguia entender, nem os seus responsáveis criar uma plataforma comum, nas ideias, nos valores, nos princípios e nas pessoas, que a permitisse chegar ao poder. Aí, de facto, até Sá Carneiro e Cavaco Silva a terem posto na ordem, a direita portuguesa foi a mais estúpida da Europa. Pelos visto, quando já não tem quem a domestique, como agora, continua a ser. A nova-direita-verdadeiramente-liberal-e-nada –ultramontana, também. É bom que não fique ninguém de fora.
De facto, uma das marcas da personalidade do liberalismo clássico é o evolucionismo social e institucional. Qualquer liberal clássico que se preze, funda a sua interpretação da evolução da sociedade na evolução lenta e sedimentada das instituições e das pessoas que lhes dão vida, sendo sempre muito avesso ao voluntarismo baseado na «clarividência» da razão. É aquela velha história, a que Hayek frequentemente se referia, de que «os factos são mais o resultado dos nossos actos do que das nossas intenções». Assim, todos os movimentos social e politicamente ordenadores são vistos com desconfiança pelos liberais. Donde, a disposição, quase heróica, de enterrar a «velha direita», para «fundar» uma «nova direita» é uma intenção simpática, mas imprópria do verdadeiro espírito liberal.
Estranhamente, não ocorre ao espírito dos re-fundadores a razão pela qual costumam falhar as suas intenções. Adianto duas razões: ou porque a direita portuguesa não pretende ser outra coisa, ou porque não lhe dizem nada de melhor. A direita portuguesa é influenciada pelo catolicismo? Claro que sim! A direita portuguesa é mais estatista do que liberal? Inequivocamente! A direita portuguesa duvida do indivíduo, do mercado e da liberdade? Também é, em parte, verdade. Contudo, a direita portuguesa é assim há séculos, E não sei o que será melhor: se aturá-la como é, ou tentar mudá-la a golpes de retórica inflamada, contra tudo o que foi a sua história e a sua tradição.
E é aqui temos um outro e importante problema: se esta é a «velha» direita que não é liberal, onde está a nova direita liberal? É que, muito francamente, para além de um ou outro comentador, até hoje, medianamente reconhecidos pelo mercado (um bom critério liberal, é bom não esquecer) não há, pelo menos que se veja, um conjunto de ideias e de valores, nem de pessoas que as saibam defender, sem que se desentendam ciclicamente, por razões que são invariavelmente sempre pessoais.
Com tanto liberalismo puro e duro, com tamanhos talentos inovadores, com semelhante revolução copérnica na direita liberal, nem sequer um livrito, com princípio, meio e fim, que explicasse o que é isso do liberalismo, esta fantástica nova direita foi capaz de produzir, ao fim de tanto tempo. Não sabendo, embora, onde possa conhecer, com cabeça, tronco e membros, esta nova e emergentíssima direita, sei, porém, onde a nunca encontrarei. Por exemplo, aqui e aqui, onde a vejo frequentemente, muito mais vezes do que me parece que lá devia estar.
Ora, ensinam-nos os autores clássicos do liberalismo, que só se troca uma coisa por outra, quando se fica com melhor. A dita direita liberal é capaz de oferecer o quê ao seu mercado de clientes, para além das cíclicas trapalhadas e zaragatas em que se mete, invariavelmente sobre questões que deviam ser da intimidade de cada um, entre elas, a religião e a sexualidade? É isto que a nova-direita-liberal-que-se-quer-separar-da-velha-direita-conservadora-e-arcaica tem para oferecer, em vez de argumentar em favor dos seus pontos de vista, a fim de convencer, desde logo, a «outra» direita de que há um melhor caminho para ela? Não se espante, então, se lhe não prestarem qualquer atenção.
Por fim, quando, logo a seguir ao 25 de Abril, um tipo qualquer (julgo que o Mitterrand) disse que a direita portuguesa era «a mais estúpida da europa», não o disse por ela ser especialmente ultramontana, católica ou conservadora. Não o era, ou melhor, não o pretendia ser na altura, quando até o CDS e o PSD se pretendiam «vias originais» para o socialismo ou para uma sociedade sem classes, e procuravam desalmadamente dizer-se de centro e de centro-esquerda. Nessa altura, a direita francesa, gaulista, messiânica e autoritária era muito mais retrógrada do que a nossa. E a espanhola, a braços com a herança não digerida de Franco. A razão pela qual o cavalheiro proclamou a «histórica» frase foi porque, em Portugal, nessa altura, a direita não se conseguia entender, nem os seus responsáveis criar uma plataforma comum, nas ideias, nos valores, nos princípios e nas pessoas, que a permitisse chegar ao poder. Aí, de facto, até Sá Carneiro e Cavaco Silva a terem posto na ordem, a direita portuguesa foi a mais estúpida da Europa. Pelos visto, quando já não tem quem a domestique, como agora, continua a ser. A nova-direita-verdadeiramente-liberal-e-nada –ultramontana, também. É bom que não fique ninguém de fora.
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