14 novembro 2007

dólar

O sucesso económico que tem sido atribuido aos EUA depois da II Grande Guerra deve-se, em parte, a uma situação de privilégio de que o país gozou face a todos os outros países do mundo, e que ameaça agora chegar ao fim. Refiro-me à sua situação de banco central do mundo, emitindo a moeda que generalizadamente tem servido de reserva a todos os bancos centrais. A situação intensificou-se quando, a partir de 1972, a emissão de dólares passou a estar desligada da manutenção das correspondentes reservas em ouro.

Não é difícil a qualquer pessoa imaginar aquilo que faria se tivesse uma máquina de fazer notas em casa. A situação não é diferente tratando-se de um país. Todas as necessidades, todos os desejos, todos os caprichos poderiam então ser prontamente satisfeitos, bastando, para tanto, pôr a máquina a funcionar. A única restricção é a de que as pessoas ou países que aceitam essas notas mantenham a confiança de que um dia poderão comprar alguma coisa com elas à pessoa ou ao país que as emite. Confiança - em lugar do ouro - passou a ser a garantia da emissão monetária.

A confiança garante-se, em primeiro lugar, pela contenção. E contenção os EUA não a têm tido, comprando bens e serviços em abundância ao mundo, em troca de notas baseadas na confiança, e gerando o maior défice de transacções correntes que um país alguma vez teve na história. Em troca dos automóveis japoneses, dos vinhos franceses, dos texteis chineses de que se faz, em parte, o nível de vida dos americanos, eles entregam papel, assente na confiança que o mundo possui neles.

Não seria possível aos EUA gozar do poderio económico, e também militar, que hoje possuem sem este privilégio que a II Grande Guerra na Europa lhes proporcionou. Tanto quanto a famosa ética protestante - na minha opinião, bastante mais do que ela - os americanos devem o seu nível de vida à situação de serem, desde há mais de 60 anos, os banqueiros centrais do mundo. Porém, acumulam-se agora os sinais de que a situação pode mudar - e drasticamente.

Vários países anunciaram que irão reduzir as suas reservas em dólares - um sinal convincente de desconfiança. A própria crise das subprime mortgages, gerada pelo excesso de emissão monetária, que por seu turno alimentou a expansão do crédito, parece continuar a produzir efeitos em cadeia. Os próprios serviços de estatística americanos deixaram de produzir alguns indicadores da emissão monetária, por exemplo o M-3, não vá o mundo dar-se conta do pecado - o excesso de emissão. Em consequência, o dólar continua a fazer mínimos face ao euro (e, se o marco ainda existisse, ele já teria ultrapassado os mínimos históricos face à antiga moeda alemã).

Não é fácil fazer previsões nesta matéria. Mas a ascensão gloriosa da América começa a dar sinais de ter chegado ao fim.

Sem comentários: