26 setembro 2007

a árvore das patacas

Desde os primórdios da nacionalidade, que os portugueses, quando entregues a si próprios, se entretêm animadamente a empobrecer o país. Não direi que, já de si, a independência do Condado Portucalense foi uma irreflexão que nos condenou ao isolamento rectangular, nem ignoro que ainda soubemos sorver algumas riquezas da nossa aventura colonial. Mas delas não sobrou grande coisa no país, nem consta que tenham trazido prosperidade e abundância por aí além para a generalidade do território metropolitano. Porém, quando acabou a árvore das patacas, em 1822, a situação complicou-se muito mais. No que restou do século XIX e durante toda a centúria seguinte, não percebemos sequer as oportunidades que África nos oferecia, nem mesmo depois do Mapa Cor-de-Rosa. Na República batemos no fundo, no Estado Novo prosperamos à conta de alienarmos a liberdade política, e na Revolução dos Cravos destruímos a economia nacional e condenámo-la ao subdesenvolvimento durante décadas, cujo fim ainda não podemos antever. Salvou-nos, na altura, o FMI, que pôs a música e impôs a dança, como hoje nos salvam a União Europeia, os fundos comunitários e o Pacto de Estabilidade e Crescimento. A nossa sorte é, pois, puramente geográfica: estamos no extremo ocidental da Europa e era chato, numa altura de prosperidade e abertura do Velho Continente, ter por aqui uns maltrapilhos de panelas na mão a berrar por umas côdeas de pão. Não fosse isso e não estaríamos muito distantes da pobreza, que é, de resto, a nossa condição natural e histórica. Obviamente que, se comparados com o Burundi e o Biafra, concedo, mesmo até com o Turquistão e o Casaquistão, isto até nem é nada mau. Mas, bolas, o que temos é que nos comparar com a Espanha, a Irlanda, a Polónia, a Itália, a Grécia (sempre, sempre na «cauda», até a termos inexoravelmente ultrapassado), etc. Essas é que são as nossas referências mais próximas, quer geograficamente, quer em percurso histórico. E, por isso, o que temos que perguntar é porque razão esses e outros países nos ultrapassam em quase todos os índices de desenvolvimento, quando muitos deles estiveram até há bem pouco tempo sob pesadas ditaduras. Portugal é diferente? Não se sabe governar sozinho ou fora da ditadura? Talvez. Por enquanto, fico-me com esta explicação: Portugal é um país pobre, com um Estado secularmente centralista e pesado, e com uma população que se habituou às sinecuras do poder, e que perdeu qualquer veleidade de autonomia pessoal, brio e amor-próprio.

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