Não há nada mais irritante na política portuguesa, do que este recente padrão de auto-regulação dos políticos que é o «populismo». Os «populistas» são, segundo os seus denunciadores, gente imprópria para consumo, uma espécie de patetas atolambados e inconscientes, néscios e irresponsáveis sem credibilidade, a quem as massas acríticas, de tempos a tempos, entregam cegamente o poder. Daqui viriam perigos imensos e incalculáveis para a democracia, o regime e o país. Santana, Guterres, Jardim, Portas e agora Menezes, seriam os ex-libris da peçonha. Em contrapartida, existiriam políticos «sérios» e «responsáveis», avessos ao discurso leviano das promessas e do facilitismo, homens e mulheres preocupados com o destino da pátria, a quem têm para oferecer, em missão de sacrifício, os seus gigantescos talentos. Eles são os «barões» dos partidos, os «notáveis», as «elites» da partidocracia. Os outros são os «populistas». Este critério ignora, naturalmente, a essência do sistema democrático e do sufrágio universal, como tenta convencer-nos de que há políticos capazes de manter a sobriedade no duro caminho para o poder. E é curiosamente aplicado, em regra, por profissionais da política e do aparelhismo partidário, a outsiders, ou figuras politicamente marginais que querem ocupar os seus lugares. Eles dizem, portanto, que as posições de chefia política devem estar reservadas para alguns – para as «elites», como insinuou a preclara drª Teixeira da Cruz -, enquanto que à plebe e aos metecos está destinada a alegria de os ver governar. Pode ser, então, que esta vitória de Menezes os faça ganhar algum juízo, e lhes permita perceber que o cidadão comum não é, ao invés do que presumem, inteiramente desprovido de capacidades intelectuais. O mesmo é dizer, não é estúpido.
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