Se o meu diagnóstico anterior está correcto, se a cultura católica confere ao homem, como nenhuma outra, a esfera máxima de liberdade, ao ponto até de lhe consentir os excessos - essa faixa marginal da liberdade a que eu chamei liberdade pecaminosa -, então parece-me claro que o principal problema de uma sociedade de cultura católica é o de encontrar um equilíbrio entre a liberdade e aquela outra instituição que lhe pode conter os excessos - a autoridade.
Será esse equilíbrio entre a liberdade e a autoridade, numa sociedade de cultura católica, melhor conseguido quando a autoridade política é pessoalizada num caudilho ou, pelo contrário, quando ela é exercida de forma impessoal pela opinião pública numa democracia?
Há pelo menos dois séculos e meio, desde a Revolução Francesa, que as sociedades católicas do sul da Europa e as suas descendentes na América Latina se balanceiam, alternadamente, entre uma e outra destas soluções, sem encontrar um equilíbrio e um caminho.
Nos períodos em que a solução é o caudilho, estas sociedades acabam, com o decorrer do tempo, a queixar-se da falta de liberdade. Pelo contrário, nos períodos em que vigora a democracia, não decorrem muitos anos até que elas se queixem da falta de autoridade.
O dilema continua aí em aberto e eu penso que ele é hoje - na falta de autoridade, que não na falta de liberdade - o dilema central da sociedade portuguesa e a fonte de todos os seus outros problemas maiores.
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