07 julho 2007

Sempre constituiu para mim motivo de espanto e de admiração, a quantidade de graffitis que se encontram desenhados nos edifícios das grandes metrópoles. Sobretudo os que estão colocados em sítios aparentemente inacessíveis, como os andares elevados dos grandes prédios, as partes exteriores dos viadutos ou as partes mais altas de alguns monumentos públicos.
Hoje, em São Paulo, cidade pejada dessas pinturas urbanas nas suas incontáveis torres de betão, explicaram-me a razão: quanto mais altas são as pinturas, quanto mais inacessíveis os sítios onde as fazem, mais poderosos se sentem, e são reconhecidos, os seus autores. Há pouco tempo atrás, numa dessas bizarras demandas de poder, um jovem pendurado pelos pés num quarto andar de um prédio, caiu enquanto tentava marcá-lo com a sua assinatura. Morreu, obviamente.
O poder tem muitas formas e inúmeras manifestações. Mas ele é sempre uma substância perigosa, com a qual há que lidar cuidadosamente. Sendo inato à espécie humana, se usado em demasia pode levar à infelicidade, quando não mesmo à morte. Por essa e outras razões, é de bom senso moderá-lo. Evitar que existam fontes donde ele jorre com abundância ao alcance dos homens. Balançá-lo com outros poderes individuais e colectivos. Disseminá-lo por muitos, por todos os indivíduos, se possível, em vez de o concentrar nas mãos de poucos. Viver num mundo sem poder é uma utopia inumana. E domesticá-lo, uma necessidade de sobrevivência.

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