Imaginará, caro senhor, a minha surpresa quando eu descobri que uma grande proporção dos membros da Assembleia (a maioria, creio, dos seus membros) era composta por juristas. Não por magistrados distintos, que prometessem ao seu país a sua ciência, a sua prudência e a sua integridade; não por grandes advogados, que são a glória dos tribunais; não por conhecidos professores de universidades; - mas, na sua esmagadora maioria, como era inevitável na situação, pelos membros inferiores, ignorantes, mecânicos, meramente instrumentais da profissão (...). Existiam excepções importantes, mas a maioria era constituída por obscuros advogados de província (...), juristas de litigação municipal, os fomentadores e condutores das pequenas guerras de vexame na aldeia. A partir do momento em que li a lista dos membros, eu vi distintamente, como agora se prova, o que é que iria saír dali.
Quando a autoridade suprema de uma nação é investida numa Assembleia assim constituída, vão produzir-se as consequências que resultam de a autoridade suprema ser colocada nas mãos de homens que habitualmente não foram educados para se respeitarem a si próprios; que não arriscavam qualquer reputação; de quem não se podia esperar que suportassem com moderação, e conduzissem com discrição, um poder que eles próprios, mais do que quaisquer outros, devem ter ficado surpreendidos de encontrar nas suas próprias mãos (...). Quem poderia duvidar que, a qualquer custo para o Estado, acerca do qual eles não compreendiam nada, eles iriam prosseguir os seus interesses pessoais, que eles compreendiam muito bem? (...) Era inevitável, (...) estava na natureza das coisas. Eles tinham de subscrever (...) qualquer projecto que produzisse para eles uma Constituição litigante; que lhes deixasse abertas as portas a esses inumeráveis e lucrativos trabalhos que se seguem a todas as grandes convulsões e revoluções no Estado, e particularmente a todas as grandes e violentas permutações da propriedade."
(Edmund Burke, ele próprio um jurista, sobre a composição da Assembleia Constituinte saída da Revolução Francesa, in Reflections on the Revolution in France (1790), in Burke: The Harvard Classics, Norwalk: The Easton Press, 1993, pp. 190-91)
2 comentários:
Abraço, bom domingo,
A democracia ainda tem muitos defeitos.
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