Ludwig von Mises é considerado um dos pais - talvez o principal - do liberalismo moderno. Num post anterior, eu citei a definição de liberdade sobre a qual ele edifica toda a sua obra. Volto agora a fazê-lo, salientando um detalhe (em bold): "(...) Um homem é livre enquanto lhe seja permitido escolher fins e os meios a serem usados para a prossecução desses fins. (...)".
Na concepção de Mises, então, a liberdade de um homem depende dos outros homens, e como o Estado é a instituição que possui o monopólio da força na sociedade e o poder para decidir aquilo que é permitido e o que não é permitido, a liberdade de um homem - de todos os homens - depende, em última instância, do Estado. A liberdade torna-se assim uma ideia elástica, no sentido em que a esfera de liberdade de cada homem pode ser alargada ou encurtada à mercê da vontade de quem detém o poder político - numa democracia, o povo ou os seus representantes.
Em contraste com a concepção católica em que a liberdade de um homem depende da sua própria vontade de ser livre, e de mais ninguém, a concepção do liberalismo moderno proposta por Mises é uma concepção de liberdade própria de escravos, de menores de idade, ou de uma nação que tenha vivido permanentemente perseguida e oprimida.
Daqui decorre também a aversão que os liberais modernos possuem em relação ao Estado que os leva, primeiro, a defenderem um Estado mínimo e, nas versões mais radicais, a proporem a abolição do próprio Estado. O liberalismo moderno desemboca assim numa nova versão da luta de classes em que, de um lado, estão os liberais e aqueles que eles consideram seus aliados - a chamada sociedade civil ou o sector privado da sociedade - e, do outro lado, estão os governantes e mais todos os homens e mulheres que, nas suas diferentes funções, servem o poder do Estado - o sector público.
Nesta luta de classes permanente entre sector privado e sector público, entre sociedade civil e poder político, o liberalismo moderno assemelha-se ao marxismo. E é interessante notar que estes movimentos intelectuais - o marxismo de Marx, o liberalismo moderno de Mises, Friedman, Hayek, Rand ou Rothbard, e, mais recentemente, o neoconservadorismo de Leo Strauss, Allan Bloom ou Irving Kristol -, que são liderados predominantemente por intelectuais de cultura judaica, acabem todos em alguma forma de luta.
Na opinião dos liberais modernos, a liberdade de um homem é concedida pelo Estado e essa liberdade é tanto maior quanto menor fôr o Estado. Por isso, eles reclamam o Estado mínimo e, no limite, a abolição do Estado para construirem uma sociedade livre. Pelo contrário, na concepção católica, a liberdade de cada homem depende de si próprio e ele será tanto mais livre quanto mais desejar sê-lo. E é uma sociedade livre - aquela em que todos cumprem os seus deveres - que conduz a que o Estado seja mínimo e, no limite, desnecessário.
Na concepção vulgar de liberdade proposta por Mises, um Estado mínimo produz uma sociedade livre. Pelo contrário, na concepção católica de liberdade é uma sociedade livre que produz um Estado mínimo.
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