A Igreja Católica tem sido justamente considerada a instituição de maior sucesso na história da civilização. Passou praticamente por tudo aquilo que a humanidade pode passar - guerras, pestes, perseguições, crises políticas e religiosas, revoluções -, conviveu com todos os regimes políticos - liberais e absolutistas, democráticos e totalitários - e, ainda assim, sobreviveu. Olhando a sua história de quase dois mil anos, a Igreja parece uma instituição indestrutível.
Mas não é. Se me pedissem uma opinião sobre a solução que eu considerasse a mais eficaz de todas para destruir a Igreja Católica, eu não hesitaria na resposta - a democracia, a eleição por sufrágio universal e directo de todos os seus cargos de representação. Para destruir a Igreja, esta seria uma solução incomparavelmente mais eficaz do que a bomba, mesmo a nuclear.
Restringindo-me, por brevidade, à figura do Papa - porque tudo aquilo que lhe iria acontecer acabaria por se reflectir de igual modo sobre toda a hierarquia da Igreja e sobre a sua organização -, a primeira vítima da eleição do Papa por sufrágio universal seria a sua liberdade. O Papa não poderia mais decidir e agir de acordo com a sua consciência; ele passaria a estar escravizado à opinião e aos interesses da facção que o elegeu e, em última instância, à opinião e aos interesses da multidão dos crentes católicos.
Com a liberdade, cairia um outro valor que é consequência da liberdade, e sem o qual nenhuma instituição ou sociedade humana consegue, a prazo, sobreviver. Refiro-me ao ideal de justiça. Perdendo a neutralidade entre os interesses e as paixões humanas que a sua condição de suprema liberdade lhe confere, o Papa passaria a estar escravizado a esses interesses e paixões e deixaria de os poder adjudicar entre os homens com a imparcialidade que é a marca distintiva da justiça.
A vítima seguinte - seguinte somente pela ordem porque é indicada - seria a autoridade do Papa e, por arrastamento, todas as formas de autoridade natural que existem na Igreja. Ao contrário da tradição protestante, onde qualquer homem vulgar pode liderar uma igreja, ou até fundar uma igreja, na tradição católica não é Papa quem quer nem somente quem ambiciona sê-lo. Esse é um lugar reservado apenas a alguns eleitos (actualmente, cerca de 120 que constituem o colégio de cardeais) - homens que provaram aos olhos dos outros, no decurso de uma longa vida, merecerem essa distinção e essa autoridade. Porém, a partir do momento em que o sufrágio directo fosse introduzido, é praticamente certo que o lugar de Papa passaria a ser ocupado predominantemente por homens vulgares, ambiciosos, populistas e, no limite, demagogos.
Finalmente, a minha condição de economista, não me permite escapar a observação de uma outra consequência do sufrágio universal - a ruína financeira da Igreja. Ao longo dos séculos, a Igreja Católica acumulou uma riqueza considerável que ela conserva como um tesouro. Na realidade, entre outras funções que esta riqueza desempenha na instituição, uma delas - talvez a principal - é a de servir de condição sine qua non à própria liberdade do Papa. Porém, com o sufrágio universal, não faltariam facções de crentes a sugerir maneiras para a Igreja gastar a sua riqueza - frequentemente, em nome de fins humanitários e de caridade - e não faltariam candidatos ao lugar a responderem afirmativamente a esses apelos, na expectativa de obterem os votos dessas facções. Não passariam duas gerações até que a Igreja - que é provavelmente a instituição mais rica que existe no mundo - se encontrasse endividada, senão mesmo arruinada.
Alguém acredita que a Igreja Católica ainda existiria hoje se, ao longo da sua história, ela tivesse adoptado a democracia e o sufrágio universal? Eu não acredito nem um segundo.
Mas não é. Se me pedissem uma opinião sobre a solução que eu considerasse a mais eficaz de todas para destruir a Igreja Católica, eu não hesitaria na resposta - a democracia, a eleição por sufrágio universal e directo de todos os seus cargos de representação. Para destruir a Igreja, esta seria uma solução incomparavelmente mais eficaz do que a bomba, mesmo a nuclear.
Restringindo-me, por brevidade, à figura do Papa - porque tudo aquilo que lhe iria acontecer acabaria por se reflectir de igual modo sobre toda a hierarquia da Igreja e sobre a sua organização -, a primeira vítima da eleição do Papa por sufrágio universal seria a sua liberdade. O Papa não poderia mais decidir e agir de acordo com a sua consciência; ele passaria a estar escravizado à opinião e aos interesses da facção que o elegeu e, em última instância, à opinião e aos interesses da multidão dos crentes católicos.
Com a liberdade, cairia um outro valor que é consequência da liberdade, e sem o qual nenhuma instituição ou sociedade humana consegue, a prazo, sobreviver. Refiro-me ao ideal de justiça. Perdendo a neutralidade entre os interesses e as paixões humanas que a sua condição de suprema liberdade lhe confere, o Papa passaria a estar escravizado a esses interesses e paixões e deixaria de os poder adjudicar entre os homens com a imparcialidade que é a marca distintiva da justiça.
A vítima seguinte - seguinte somente pela ordem porque é indicada - seria a autoridade do Papa e, por arrastamento, todas as formas de autoridade natural que existem na Igreja. Ao contrário da tradição protestante, onde qualquer homem vulgar pode liderar uma igreja, ou até fundar uma igreja, na tradição católica não é Papa quem quer nem somente quem ambiciona sê-lo. Esse é um lugar reservado apenas a alguns eleitos (actualmente, cerca de 120 que constituem o colégio de cardeais) - homens que provaram aos olhos dos outros, no decurso de uma longa vida, merecerem essa distinção e essa autoridade. Porém, a partir do momento em que o sufrágio directo fosse introduzido, é praticamente certo que o lugar de Papa passaria a ser ocupado predominantemente por homens vulgares, ambiciosos, populistas e, no limite, demagogos.
Finalmente, a minha condição de economista, não me permite escapar a observação de uma outra consequência do sufrágio universal - a ruína financeira da Igreja. Ao longo dos séculos, a Igreja Católica acumulou uma riqueza considerável que ela conserva como um tesouro. Na realidade, entre outras funções que esta riqueza desempenha na instituição, uma delas - talvez a principal - é a de servir de condição sine qua non à própria liberdade do Papa. Porém, com o sufrágio universal, não faltariam facções de crentes a sugerir maneiras para a Igreja gastar a sua riqueza - frequentemente, em nome de fins humanitários e de caridade - e não faltariam candidatos ao lugar a responderem afirmativamente a esses apelos, na expectativa de obterem os votos dessas facções. Não passariam duas gerações até que a Igreja - que é provavelmente a instituição mais rica que existe no mundo - se encontrasse endividada, senão mesmo arruinada.
Alguém acredita que a Igreja Católica ainda existiria hoje se, ao longo da sua história, ela tivesse adoptado a democracia e o sufrágio universal? Eu não acredito nem um segundo.
6 comentários:
Correcção: no texto, onde está "...porque é indicada...", devia estar "... por que é indicada..."
Se a Igreja Católica é a instituição de maior sucesso na história da civilização, e a razão para tal feito é a inexistência de sufrágio universal na eleição das suas estruturas hierárquicas, então penso que Portugal, um país de tradição católica, deveria copiar esse modelo.
Talvez dessa forma, atendendo ao enorme potencial que possuímos, Portugal se tornasse num dos países mais desenvolvidos do Mundo.
4 hero
Eu já estou convencido. Só falta convencer mais 9 milhãoes.
Não vai ser fácil!
4 hero
Correcção : milhões, naturalmente.
Só por curiosidade: existe alguma antinomia entre este post e o post do Rui A. “ graffits” ?
4 hero
Depois destes anos todos,o desencanto instalou-se e começo,também,a ter sérias dúvidas,quase certezas,de que o caminho que vem sendo trilhado não é o que melhor se adequa a Portugal,e aos portugueses.Não será assim com todos os povos...
Esse argumento e exemplo foi também usado por Hoppe (por sinal o grande teórico do ancap e católico pós rothbard - de quem foi amigo e colega).
O direito de voto politico é um forma de comunismo.
Por isso democracia é sinónimo de social-democracia e não de liberalismo.
A única forma de minimizar os males que provoca é descentralizar e localizar os circulos eleitorais conferindo o máximo de autonomia possível, e no limite, a secessão.
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