Foi no dia 13.VII. 2007
A caminho da Serra da Estrela (e da minha casa em Pinhanços), liga-me o Pedro Arroja a convidar-me para escrever no blog do Rui Albuquerque, onde ele tinha passado a escrever.
Convite que vinha na sequência de um jantar na Gândara (Miramar) em que tinha manifestado resistência a similar desafio, até pelas naturais dificuldades em me adaptar a um mundo novo e exigente como é o da blogosfera.
Apanhado em andamento, a caminho desse Portugal profundo, lá acabei por aceitar e aqui estou a cumprir um compromisso com dois nobres amigos e muito honrado por passar a ser parte do Portugal Contemporâneo.
Antes de mais, “Contemporâneo”. Um nome que se revela adequado para quem não se sentiria cómodo com uma escolha entre antigo e moderno. Quem, como nós, ainda apanhou o resto das folhas do Outono da modernidade e está longe se rever na fauna pós-moderna, só resta aspirar a ser muito e verdadeiramente contemporâneo. Daí a sentida vontade de também entre nós se voltar a ligar: o real e o ideal, a fatalidade e o destino, retemperando forças e condimentando os saberes e os sabores que fizeram da nossa história o nosso fado, e a cara, o rosto e a identidade de uma Nação: Portugal
Mas face a um Portugal sem Norte, sem bússola, sem estrelas no céu, sem orgulho de ser, sem rumo - e com cada vez mais pessoas a confundirem tolerância com permissividade, saber com “achar” -, urge voltar a acreditar e a ousar para vencer. É tempo de re-aprender de novo a enfrentar grandes desafios, e a dobrar os contemporâneos e assustadores Cabos que não nos deixam ir mais longe…
Um País com medo da autoridade, do saber e das virtudes nunca terá futuro. Será sempre um Portugal diminuído na sua grandeza e povoado por gente que se sente diminuída. Mesmo entre os jovens, como um dia nos lembrou Manuel de Oliveira, o que é estrangeiro é o que continua a ser bom. Daí que um jovem, quando vai lá fora, se fala bem inglês e lhe perguntarem se é inglês, é bem capaz de responder: «Quase».
Não é assim de estranhar que Portugal seja o maior exportador de “quases” e mesmo assim esteja cheio de “quases”.
É por isso notável que o Rui Albuquerque não tenha escolhido para o seu blog o nome “Quase Portugal”, ou “Quase contemporâneo”. Mais Portugal é bom e mais “Portugal Contemporâneo” será, assim o esperamos, ainda melhor. É isso que o estrangeiro espera de nós: o melhor. Só sendo contemporâneos podemos aspirar a dar futuro a um passado onde tantos da lei da morte se libertaram, abrindo assim espaço para um mundo mais aberto, universal e plural.
Todos quantos na vida insistem em arriscar o seu ser - com o tempo - logo descobrem quanto a verdadeira existência nos funde na grei e nos obriga a uma “aventura” que tanto remete para o passado como aponta para o futuro.
Portugal, precisa de Norte e, antes de mais, de um olhar a partir de um Porto mais liberal, e por isso mais capaz de se sintonizar com o País de modo a ajudar a dar vida a um Portugal mais contemporâneo e mais presente no variado e difícil concerto das Nações.
Ao contrário do político, a claridade deve ser condição de quem quer a prazo influenciar ideias com futuro, que são realmente as que nos devem mover. Era neste sentido que originalmente se entendia o mester dos filósofos, e era, por isso, que costumavam assumir a claridade como sua condição.
Vamos tentar – como diria Ortega e Gasset – que essa seja também a nossa cortesia para quem nos visita num «Portugal Contemporâneo» que, a meu ver, deveria tomaria Alexandre Herculano como um dos grandes patronos.
Julgo que cada um de nós (Rui, Pedro e José Manuel, por ordem de chegada) se sente à sua maneira heterodoxo, mas também sente a absoluta necessidade de exigir como prova ou condição: a de ter sido antes doxo. Será que se pode considerar hetero-doxo que antes não se revelou capaz de digerir e assimilar a doutrina de que supostamente agora se vê como dissidente? Bem sabemos hoje que o mundo está cheio de dissidentes. Para mim os mais queridos são os que de forma insistente se rebelam contra a ortodoxia do «politicamente correcto». Os meus amigos de O Insurgente e do Blasfémias, os blogs que mais visito, estão entre os mais irrequietos.
Face a este mar revolto e tormentoso da blogosfera, a geração do Portugal Contemporâneo pretende ser esperança e refúgio de velhos e novos combatentes da liberdade. São só três mosqueteiros, de uma velha guarda, um trio que apenas aspira a poder - muito depois dos quarenta – ter a vantagem de dar testemunho vivo aos mais novos de uma conhecida máxima atribuída a Aristóteles: «Só há uma maneira de ser bom, muitas de ser mau».
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